FUTEBOL: Idade Média

“Rolo para vós, que me haveis tomado como uma bola de futebol, passando-me, assim, a um outro; me lançais daqui e ele me atira de lá. Se hei de continuar neste ofício devereis forrar-me de couro”.

“A Comédia dos Erros” (1592-1593)

WILLIAM SHAKESPEARE

“King Lear: Ousas erguer o olhar para mim, biltre?

Oswald: Não, senhor. Mas não me mandeis espancar, por favor.

Kent: Não. Apenas te aplicaremos pontapés como a uma bola. Assim, também aprenderás como se joga com ela, desprezível jogador de futebol.”

“Rei Lear” (1605-1606)

WILLIAM SHAKESPEARE

Na Idade Média ou Mediaval não havia futebol, mas um jogo anárquico em que se perseguia e pontapeava uma bola, não sendo ela o mais importante. 

Importante era a sua conquista fosse qual fosse a forma ou o método. Valia tudo, sem regras, degenerando com frequência em rixas colectivas. Era o desporto das classes inferiores, utilizada para superação e distracção da sua condição ou para desafios entre localidades ou sítios.

A violência e a popularidade do novo desporto conduziram a que as tropas o assimilassem como exercício físico, mas o entusiasmo exagerado foi deteriorando gradualmente a disciplina militar e os costumes dos soldados.

Esta situação e a violência do "jogo de arruaceiros" como a classe superior a classificava, levou a que o Rei Eduardo II, em Inglaterra, proibisse a prática deste desporto em 1314.

Apesar da proibição o jogo não desapareceu, muito antes pelo contrário, foi evoluindo lentamente com o tempo conforme os entusiasmos festivos e confinamentos. Afinal de contas estamos a falar de séculos.

Obviamente, a história não acabou aqui, o futebol começava a germinar.

“A rudimentar bola saltitou num extremo da estreita rua do Cheapside londrino, quase surpreendida por se ter livrado, ainda que por meros instantes, dos furiosos pontapés aplicados por dezenas de artesãos, comerciantes, rapazes, frades e homens de reputação duvidosa.

Um jovem correu para ela e tentou dominá-la e esquivar-se a dois corpulentos archeiros dos exércitos de Sua Majestade. As pernas, os cotovelos e até os punhos destes atingiram violentamente o rapaz, que caiu no chão soltando gritos de dor. O pai do agredido, que se encontrava perto da «jogada», puxou da algibeira uma pequena mas aguçada navalha e matou os dois soldados, sancionando assim a «falta» que haviam cometido sobre o filho. 

O brusco, apaixonante e primitivo futebol inglês da Idade Média contava as suas primeiras vítimas mortais.”

BRIAN GLANVILLE (Jornalista britânico)