O
pequenino vagabundo joga a bola
e
sai correndo atrás da bola que salta e rola.
Já
quebrou quase todas as vidraças,
Inclusive
a vidraça azul daquela casa
onde
o sol parecia um arco-íris em brasa.
Os
postes estão hirtos de tanto medo.
(O
pequenino vagabundo não é brinquedo...)
E
quando o pequenino vagabundo
cheio
de sol, passa correndo entre os garotos,
de
blusa verde-amarela e sapatos rotos,
aparece
de pronto um guarda policial,
o
homem mais barrigudo deste mundo,
com
os seus botões feitos de ouro convencional,
e
zás! carrega-lhe a bola!
“Estes
marotos precisam de escola...”
O
pequenino vagabundo guarda nos olhos,
durante
a noite toda, a figura hedionda
do
guarda metido na enorme farda
com
aquele casaco comprido todo chovido
de
botões amarelos.
E
na sua inocência improvisa os mais lindos castelos;
e
vê, pela vidraça,
a
lua redonda que passa, imensa,
como
uma bola jogada no céu.
“É
aquele Deus, com certeza,
de
que a vovó tanto fala.
Aquele
Deus, amigo das crianças,
que
tem uma bola branca cor de opala
e
tem outra bola vermelha cor do sol;
que
está jogando noite e dia futebol
e
que chutou a lua agora mesmo
por
trás do muro e, de manhã, por trás do morro,
chuta
o sol...
CASSIANO
RICARDO






