No futebol nada está garantido. É um jogo de habilidades com os pés e exploração da inteligência. Muitas vezes a equipa que joga melhor com os pés não ganha à equipa que joga melhor com a cabeça.


domingo, 21 de março de 2021

MARTIM CERERÊ, JOGADOR DE FUTEBOL

O pequenino vagabundo joga a bola

e sai correndo atrás da bola que salta e rola.

Já quebrou quase todas as vidraças,

Inclusive a vidraça azul daquela casa

onde o sol parecia um arco-íris em brasa.

Os postes estão hirtos de tanto medo.

(O pequenino vagabundo não é brinquedo...)

 

E quando o pequenino vagabundo

cheio de sol, passa correndo entre os garotos,

de blusa verde-amarela e sapatos rotos,

aparece de pronto um guarda policial,

o homem mais barrigudo deste mundo,

com os seus botões feitos de ouro convencional,

e zás! carrega-lhe a bola!

“Estes marotos precisam de escola...”

 

O pequenino vagabundo guarda nos olhos,

durante a noite toda, a figura hedionda

do guarda metido na enorme farda

com aquele casaco comprido todo chovido

de botões amarelos.

 

E na sua inocência improvisa os mais lindos castelos;

e vê, pela vidraça,

a lua redonda que passa, imensa,

como uma bola jogada no céu.

“É aquele Deus, com certeza,

de que a vovó tanto fala.

 

Aquele Deus, amigo das crianças,

que tem uma bola branca cor de opala

e tem outra bola vermelha cor do sol;

que está jogando noite e dia futebol

e que chutou a lua agora mesmo

por trás do muro e, de manhã, por trás do morro,

chuta o sol...

 

CASSIANO RICARDO

 

Sem comentários:

Enviar um comentário