No futebol nada está garantido. É um jogo de habilidades com os pés e exploração da inteligência. Muitas vezes a equipa que joga melhor com os pés não ganha à equipa que joga melhor com a cabeça.


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quarta-feira, 11 de novembro de 2020

PONTAPÉ BICICLETA: Histórico e Histórias



Bicicleta” em português, “Chilena” em espanhol, “Chalaca” para os peruanos, “Bicycle kick” ou “Overhead kick” em inglês, “Rovesciata” em italiano, “Fallrückzieher” em alemão, “Omhaal” em Holandês, “Retourné” em francês, tudo para designar um pontapé de bicicleta.

Não se sabe ao certo quem inventou o gesto técnico ou o movimento acrobático que se tornou numa habilidade ou recurso absolutamente apreciado no mundo do futebol. Tanto no processo ofensivo como defensivo.

O basco Ramón Unzaga, naturalizado chileno, é a referência mais antiga do movimento, conforme registo da Associação de Futebol de Talcahuano, com a indicação que o jovem espanhol tinha realizado aquela jogada pela primeira vez em Janeiro de 1914 no estádio El Morro de Talcahuano. O movimento, nunca antes visto, foi baptizado inicialmente comoLa Chorera”.

O escritor uruguaio Eduardo Galeano escreveu no seu livro: "Futebol ao sol e à sombra":

"Ramón Unzaga inventou a jogada no campo do porto chileno de Talcahuano: com o corpo no ar, de costas para o chão, as pernas disparavam a bola para trás, num movimento repentino de vaivém de lâminas de tesoura."

No entanto, os peruanos defendem que quem inventou a jogada foram os peruanos do Puerto del Callao e cuja designação era “La Chalaca”.

De qualquer forma, Ramón Unzaga, se não inventou, pelo menos patenteou e popularizou o movimento nas edições da Copa América de 1916 e 1917, pelo Chile, quando ganhou uma nova designação: “La Chilena”.

Por outro lado, David Arellano é apontado como o jogador que internacionalizou o “perigoso” movimento e o apresentou na Europa, mais precisamente em Espanha. Em 1927, David Arellano, capitão e fundador do clube chileno Colo-Colo fez uma digressão à Europa e o “truque” do avançado foi aclamado em Espanha que acolheram a espectacularidade arriscada de “La Chilena”.

Porém, durante a digressão, no jogo com o Valladolid, o avançado de 24 anos lesionou-se com gravidade no abdómen ao chocar com outro jogador e acabou por morrer de uma peritonite.

No Mundial de França 1938, surgiu Leónidas da Silva, o Diamante Negro ou Homem-borracha, que universalizou o “Pontapé Bicicleta” com um impacto nunca antes alcançado. O brasileiro popularizou e globalizou de tal a forma o gesto que lhe foi atribuída a responsabilidade da criação.

No entanto, a primeira ocasião documentada em que terá executado o movimento remonta a Abril de 1932, facto que lhe retira a possibilidade de o ter inventado mas que serviu para o tornar famoso e começar a levar multidões ao futebol na esperança de apanhar a jogada que parecia saído das lendas de magia. 

Em Itália, por exemplo, Carlo Parola, defesa central da Juventus nos anos 40/50, ficou conhecido, em Janeiro de 1950, pela forma como anulou uma jogada ofensiva da Fiorentina com um corte de “Pontapé Bicicleta”. Esse movimento foi tão difundido que Carletto Parola mereceu o cognome de “Signore Rovesciata”.

Ou seja, ficou na história por ter utilizado o acrobático pontapé bicicleta para impedir que a bola chegasse a Egisto Pandolfini da Fiorentina, naquele que foi considerado o melhor corte de sempre. A imagem é o símbolo da Panini Calcitori.

Em 1965, num jogo amigável entre Brasil e Bélgica, Pelé marcou um golo de “Pontapé Bicicleta” que foi considerado na altura a “Bicicleta perfeita”. O Laboratório de Biofísica da Universidade de São Paulo (USP), que estudou o movimento de Pelé, afirmou que Edson Arantes do Nascimento inventou uma forma de usar, com quase 100% de eficiência, a energia do corpo numa fracção de segundo.

Em 1976, Dennis Tueart, marcou com um “Pontapé Bicicleta” o golo que garantiu a Taça da Liga de 1975/76 ao Manchester City, na vitória por 2-1 sobre o Newcastle na final. O City não conseguiu ganhar outro troféu durante 35 anos, até a sua vitória na FA Cup 2011 (Taça de Inglaterra). 

No Mundial de Espanha 82, realizou-se um jogo que ficou na memória de todos, em particular de alemães e franceses, e que ficou conhecido em ambos os países como a “Noite de Sevilha”. No jogo das meias-finais, RFAlemanha e França empataram a 3 golos e no desempate através das grandes penalidades a RFAlemanha garantiu o acesso à final. A França durante o prolongamento chegou a ter uma vantagem de 3-1. No entanto, aos 108 minutos, Klaus Fischer com um “Pontapé Bicicleta” igualou o marcador a 3 golos e remeteu a decisão para as grandes penalidades.

Em Novembro de 1977, num jogo entre a RFAlemanha e a Suiça (4-1) Klaus Fischer já tinha marcado um golo através de um “Pontapé Bicicleta” que conquistou os prémios de Golo do Ano; Golo da Década e Golo do Século, atribuído pela Televisão alemã ARD e votado no programa Sportschau.


Hugo Sanchez, em Abril de 1988, concretizou uma “Chilena” (Hugo chamou-lhe “huguiña”) histórica no futebol espanhol num jogo entre Real Madrid vs Logroñés. O público ovacionou-o durante 2 minutos, chamando-lhe de torero e acenando com lenços brancos. O golo foi qualificado como perfeito e eterno. Hugo media 1,78m e conseguiu rematar a 2,20m de altura.

Dia 17 de junho de 2001, 38.ª e última jornada do Campeonato Espanhol, Barcelona e Valência discutiam a quarta posição e um lugar na Liga dos Campeões. Rivaldo marcou 3 golos na vitória do Barcelona por 3-2 e garantiu o objectivo. O golo da vitória marcado aos 88 minutos foi alcançado por Rivaldo Ferreira através de um “Pontapé Bicicleta”.

Em Fevereiro de 2011, Wayne Rooney fez um golo espectacular através de um “Pontapé Bicicleta” que decidiu o derby de Manchester, na vitória do United sobre o City, e empurrou a sua equipa para o título. Em 2012, este tento foi votado como o melhor golo da história da "Premier League". 

Em 2012, num amigável entre Suécia e Inglaterra, Zlatan Ibrahimović concretizou um “Pontapé Bicicleta” de fora da área, a cerca de 40 metros da baliza de Joe Hart. O golo acabou por vencer o prémio Puskas da FIFA, para melhor golo do ano.

Em 2018, nos quartos-de-final da Liga dos Campeões, a Juventus recebeu o Real Madrid e Cristiano Ronaldo marcou um golo a Buffon de “Pontapé Bicicleta” que mereceu o aplauso tanto dos adeptos espanhóis como dos adeptos italianos. Os dados obtidos indicam que a bola chegou à baliza adversária a uma velocidade de 72 quilómetros por hora. A bola foi pontapeada a 2,38 m do solo e o corpo do jogador estava paralelo ao chão com as costas a 1,41 m do relvado.

O golo que mereceu o aplauso global, ganhou outros prémios, mas não ganhou a votação do prémio Puskas.