No futebol nada está garantido. É um jogo de habilidades com os pés e exploração da inteligência. Muitas vezes a equipa que joga melhor com os pés não ganha à equipa que joga melhor com a cabeça.


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segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

O FUTEBOL NOS JOGOS OLIMPICOS (A estreia de Portugal)

1928 (AMESTERDÃO) IX JO: Depois de ameaçar presença nos Jogos de 1924, em que desistiu 15 dias antes do início da competição e já depois dos sorteios realizados onde iria defrontar a Suécia na fase preliminar, Portugal fez a sua estreia num grande evento internacional de futebol, uma prova equivalente a um campeonato do mundo. 

Para estas Olimpíadas, havia uma grande expectativa em relação à qualidade da equipa de futebol, considerada na altura como uma geração de ouro, com jogadores como Jorge Vieira, Carlos Alves, Vítor Silva, Augusto Silva, Raul “Tamanqueiro”, Valdemar Mota ou o prodigioso “Pepe”.

A comitiva portuguesa era composta pelos jornalistas Ribeiro dos Reis como Director, Cândido de Oliveira como Seleccionador / Treinador e Ricardo Ornellas (o criador de “A Equipa de Todos Nós”) como Treinador. Os  guarda-redes eram António Roquete (CA Casa Pia) e Cipriano Santos (Sporting CP); os defesas: Carlos Alves (Carcavelinhos FC), Jorge Vieira (Sporting CP) e Óscar de Carvalho (Boavista FC); os médios: Raul “Tamanqueiro” Figueiredo (SL Benfica), Augusto Silva (CF Os Belenenses), César de Matos (CF Os Belenenses) e Aníbal José (Vitória FC de Setúbal); os avançados: Waldemar Mota (FC Porto), José Manuel Soares “Pepe” (CF Os Belenenses), Vítor Silva (SL Benfica), Armando Martins (Vitória FC de Setúbal), José Manuel Martins (Sporting CP), João dos Santos (Vitória FC de Setúbal), Jorge Tavares (SL Benfica), Liberto dos Santos (União Foot-Ball Lisboa) e Alfredo Ramos (CF Os Belenenses).

Na estreia de Portugal nos Jogos, tal como a da chama olimpica, o sorteio até beneficiou a equipa lusa evitando confrontos com selecções mais cotadas, mas obrigou a um jogo preliminar (A Espanha também esteve para fazer um jogo preliminar, mas a Estónia desistiu dos Jogos) que podia ditar o afastamento prematuro da competição. Ainda por cima o jogo era contra o desconhecido Chile. Aos 16 minutos os lusos já perdiam por 2-0 e para agravar a situação Armando Martins lesionou-se e na altura não havia substituições. No entanto, a alma lusitana fez a equipa tocar a reunir enquanto soltava o génio de “Pepe” e ainda antes do intervalo chegou ao empate para ganhar o direito de chegar aos oitavos-de-final. 4-2 foi o resultado. Portugal alinhou assim:

PORTUGAL – 4 – CHILE - 2

António Roquete - Carlos Alves, Jorge Vieira (C) - "Tamanqueiro", Augusto Silva, César Matos - Waldemar Mota (1), "Pepe" (2), Vítor Silva (1), Armando Martins, José Manuel Martins.

Portugal jogou praticamente com os mesmos jogadores em todos os jogos, excepto no jogo com a Jugoslávia onde entrou João dos Santos para substituir o lesionado Armando Martins que voltaria no jogo seguinte.

Ultrapassado o “angustiante pesadelo” do primeiro jogo e do espectro da eliminação prematura, Portugal preparou-se para o confronto com a Jugoslávia que, apesar de não ser uma das formações mais cotadas na prova, tinha a experiência de duas participações nesta competição mundial (1920 e 1924). 

Foi um jogo duro, complexo e desgastante, com expulsões de Waldemar Mota e Ivković aos 80 minutos e com o golo da vitória portuguesa a surgir ao minuto 90 por intermédio de Augusto Silva. Portugal alinhou assim:

PORTUGAL – 2 – JUGOSLÁVIA - 1

António Roquete - Carlos Alves, Jorge Vieira (C) - "Tamanqueiro", Augusto Silva (1), César Matos - Waldemar Mota, "Pepe", Vítor Silva (1), João dos Santos, José Manuel Martins.


Portugal estava a escrever a sua história na competição e o sonho de estar entre as 8 melhores tinha sido alcançado. Agora os quartos-de-final, com o sorteio a afastar as selecções mais cotadas e a colocar os nordeste-africanos do Egipto no caminho. Egipto que tinha afastado a Turquia com um resultado de 7-1 e tal como a Jugoslávia já tinha a experiência de duas participações nesta competição mundial (1920 e 1924). 

No entanto, o grupo parece ter criado um excesso de confiança perante o adversário, evidente nos relatos: “Uma equipa de paxás com um ataque velocíssimo no qual pontificam quatro negros”. 

A verdade é que o Egipto apostou na consistência defensiva (os tais paxás estáticos) e na velocidade do contra-ataque (os velocistas), obrigando os portugueses a chocar com um muro, a desperdiçar oportunidades, a desgastar energias e a perder discernimento. 

Os egipcios adiantam-se no marcador ainda na primeira parte e chegam a 2-0 no início da segunda, Vitor Silva reduz para 2-1 aos 76 minutos e Waldemar Mota ainda reclama um golo que o árbitro italiano Giovanni Mauro não confirma por considerar que a bola não tinha ultrapassado a linha de golo por completo. A viagem terminava ali.

Portugal alinhou:

PORTUGAL – 1 - EGIPTO - 2

António Roquete - Carlos Alves, Jorge Vieira (C) - "Tamanqueiro", Augusto Silva, César Matos - Waldemar Mota, "Pepe", Vítor Silva (1), Armando Martins, José Manuel Martins.


As expectativas estavam altas e foi dificil digerir aquela derrota com os faraós. Principalmente por estar tão perto das medalhas e nomeadamente pela forma como o Egipto caiu nas meias-finais perante a Argentina (6-0) - com quem os lusos tinham empatado antes da competição - e perante a Itália (11-3) - que os lusos tinham ganho por 4-1 num particular antes da competição - na discussão da Medalha de Bronze.

De qualquer forma só em 1966 outra selecção portuguesa fez um percurso melhor. No Ranking Final a selecção portuguesa ficou em 5.º lugar com os mesmos pontos que o 4.º classificado: O Egipto.

Vítor Silva foi o melhor marcador da Selecção com 3 golos.