No futebol nada está garantido. É um jogo de habilidades com os pés e exploração da inteligência. Muitas vezes a equipa que joga melhor com os pés não ganha à equipa que joga melhor com a cabeça.


segunda-feira, 15 de novembro de 2021

PORTUGAL: A Primeira Selecção 1921

A 18 de Dezembro de 1921, no Campo do Atlético de Madrid e perante cerca de 12.000 espectadores, Portugal apresentou a sua primeira selecção nacional para um jogo internacional e para defrontar a Espanha que tinha sido medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1920, disputados em Antuérpia, e onde a Organização apresentou o Torneio de Futebol como o “I Concurso Mundial de Futebol”.

No entanto, a estreia da selecção não podia dispensar alguns atritos e discussões de interesses. O primeiro seleccionador convidado foi o Eng.º Augusto Sabbo, então treinador do Sporting CP, que acabou por abandonar o lugar devido ao facto de ter convocado o jogador de “Os BelenensesFrancisco Pereira que mereceu forte contestação da imprensa e originou que o jogador renunciasse à selecção, bem como o seu irmão Artur José Pereira, o melhor jogador português na altura, e também Alberto Rio.

A convocatória de Augusto Sabbo, ou seja a primeira, contava com os seguintes elementos: Carlos Guimarães; António Pinho e Jorge Vieira; João Francisco, Artur José Pereira, Francisco Pereira; J. Gralha, Alberto Augusto, Jaime Gonçalves, José Rodrigues, Alberto Rio.

Para colmatar o problema a entidade federativa (União Portuguesa de Futebol) nomeou um comité de selecção que reunia um grupo de elementos da Associação de Futebol de Lisboa: Carlos Vilar, Pedro Del Negro, Reis Gonçalves, Virgílio Paula, Plácido Duro e Júlio de Araújo.

Como seria de esperar, principalmente pela rivalidade entre as selecções de Lisboa e Porto, os clubes filiados na Associação de Futebol do Porto contestaram aquela nomeação por a considerarem não representativa do país porque tendenciosa e privilegiadora dos jogadores de Lisboa nas convocatórias. Aliás, já a primeira convocatória não tinha agradado. O único jogador convocado a jogar no Porto foi Artur Augusto (nascido em Lisboa) que, apesar do boicote à selecção por parte dos clubes portuenses, acabou por integrar o grupo de trabalho e juntar-se ao irmão Alberto Augusto.

Com a entrada em funções do Comité de Selecção, também se alterou o núcleo duro da equipa, com uma aposta clara em jogadores e ex-jogadores do Casa Pia AC, provavelmente a melhor equipa na altura, também com voz activa na imprensa. Curiosamente, e necessariamente por falta de recursos, foi o clube do Ateneu Casapiano a ceder os equipamentos para o primeiro jogo da selecção nacional. A camisola preta dos “Gansos”.




A crónica do jogo no jornal “O Século”:

MADRID, 19 - A partida de foot-ball entre portuguezes e hespanhoes efectuou-se no meio de grande anciedade. Mais de 12.000 pessoas assistiram ao desafio e no campo as tribunas ostentavam colgaduras vendo-se bandeiras dos dois paizes entrelaçadas. Os vivas a Hespanha cruzaram--se de mistura com os vivas a Portugal. Os hespanhoes começaram jogando com grande impeto e, poucos momentos depois, Meana com um remate de cabeça consegue o primeiro ponto para a Hespanha; 5 minutos mais tarde Alcantara consegue o segundo. Continua o desafio, ganhando bem as duas équipes. Termina então o primeiro tempo, com dois pontos a favor de Hespanha e nenhum a favor de Portugal. No segundo tempo, Alcantara consegue o terceiro ponto para a Hespanha, o que estimula os portuguezes, que procuram dominar os hespanhoes, mas não fazem ponto algum, porquanto estes são superiormente aparados pelo ‘keeper’ hespanhol. Os portuguezes conseguem fazer um ponto, em virtude de uma mão metida na arena do goal, o que dá ocasião a uma enorme ovação a Portugal. A partida termina, contando os hespanhoes 3 pontos e os portuguezes 1. Ovações e hurrahs tanto à Hespanha como a Portugal. O arbitro do desafio foi Cazelle, do colégio belga, que tambem foi muito ovacionado pela imparcialidade e oportunismo que deu provas.”


O Jogo:

ESPANHA – 3 – PORTUGAL – 1

ÁRBITRO: M. Barette Cazelle (Bélgica)

PORTUGAL: Carlos Guimarães (CIF); António Pinho (Casa Pia AC), Jorge Vieira (Sporting CP); João Francisco (Sporting CP), Vítor Gonçalves (SL Benfica), Cândido de Oliveira “c” (Casa Pia AC); José Maria Gralha (Casa Pia AC), António Augusto Lopes (Casa Pia AC), António Ribeiro dos Reis (SL Benfica), Artur Augusto (FC Porto) e Alberto Augusto (SL Benfica).

SELECCIONADOR (Comité): Carlos Vilar, Pedro Del Negro, Reis Gonçalves, Virgílio Paula, Plácido Duro e Júlio de Araújo.

GOLO: Alberto Augusto


ESPANHA: Ricardo Zamora; Pololo, Balbino Garcia; Manuel Meana, Desidério Fajardo, Arrate “c”; Félix Sesúmaga, Eduardo Arbide, Francisco "Pagaza" Pagazaurtundúa, Luis Olaso, Paulino Alcântara.

SELECCIONADOR: Julian Ruéte e Manuel Castro Gonzalez.

GOLOS: Manuel Meana e Paulino Alcântara (2)












sábado, 4 de setembro de 2021

LIONEL MESSI: Saída do Barcelona, entrada no PSG


Não estou disposto a hipotecar os direitos de televisão do clube por 50 anos por ninguém.”

A situação que herdamos é horrível, a massa salarial representa 110% do rendimento total do clube e não temos qualquer margem em termos salariais. A gestão anterior foi calamitosa. Temos que cumprir com o fair-play financeiro, conhecemos as regras, e não temos qualquer margem. Os números são piores do que os que nos foram mostrados inicialmente. É com estes dados que temos de trabalhar”.

JOAN LAPORTA

Este é o momento mais difícil da minha carreira desportiva. Quando me disseram fiquei bloqueado. Foi uma jarra de água fria. Já tive momentos duros e dificeis, mas este... Sinto uma grande tristeza, não estava à espera. Não sei se o Barça fez, mas eu fiz tudo para continuar. Cortei o salario a metade, estava tudo tratado e ninguém me pediu mais nada. Eu queria ficar. O ano passado estava decidido a sair, mas este ano não.”

LIONEL MESSI

E após 21 anos, 17 Épocas, 35 Títulos (10 La Ligas, 7 Taças do Rey, 8 Supertaças Espanha, 4 Ligas dos Campeões, 3 Supertaças Europa, 3 Taças Intercontinentais/Mundial de Clubes), 6 Bolas de Ouro, 6 Botas de Ouro, 8 Pichichi, 778 jogos e 672 golos (520 jogos e 474 golos em La Liga), Leo Messi deixou o FC Barcelona e foi jogar para os franceses do FC Paris Saint-Germain.

Lionel Andrés Messi Cuccittini chegou ao Barcelona no ano de 2000, com 13 anos de idade e 1,40 m de altura, estreou-se pela equipa principal com 16 anos, em 2003, num jogo amigável contra o FC Porto (0-2) na inauguração do Estádio do Dragão, e oficialmente contra o Espanhol (1-0) na época 2004/05, com 17 anos (entrou a substituir Deco aos 82’).





sexta-feira, 3 de setembro de 2021

CR7: Maior goleador das selecções


Era um recorde que eu queria muito alcançar. Depois do penalty, fiquei aí uns dez minutos à toa, mas o futebol é isto, acreditar até o fim”.

CRISTIANO RONALDO


Tudo começou com um golpe de cabeça contra a Grécia no Estádio do Dragão no Porto, na data de 12.06.2004, e terminou com 2 golpes de cabeça contra a República da Irlanda no Estádio Algarve em Loulé-Faro, na data de 01.09.2021.

Cristiano Ronaldo ficou sozinho, isolado, sem ninguém por perto como o melhor goleador de sempre na história das selecções nacionais, com 111 golos e promessas de mais. O iraniano Ali Daei com 109 golos (Na realidade são 108 golos dado que um jogo com a Coreia do Norte foi anulado) passou o testemunho.

 

Para a História:

Estádio Algarve – Loulé-Faro - Portugal

Árbitro: Matej Jug (Eslovénia)

PORTUGAL – 2

Rui Patrício; João Cancelo (Gonçalo Guedes), Pepe, Rúben Dias, Rafael Guerreiro (Nuno Mendes); João Palhinha (João Moutinho), Bernardo Silva, Bruno Fernandes (João Mário); Rafael “Rafa” Silva (André Silva), Cristiano Ronaldo (c), Diogo Jota.

Suplentes não utilizados: Anthony Lopes, Diogo Costa, Rúben Neves, Otávio Monteiro, Domingos Duarte, Danilo Pereira, Nélson Semedo.

Treinador: Fernando Santos

Golos: Cristiano Ronaldo (89’, 96’)

 

REPÚBLICA DA IRLANDA – 1

Gavin Bazunu; Dara O'Shea (Andrew Omobamidele), Shane Duffy, John Egan; Séamus Coleman (c), Jeffrey "Jeff" Hendrick, Joshua “Josh” Cullen, Matthew “Matt” Doherty; Jamie McGrath (Jayson Molumby), Aaron Connolly (James McClean); Adam Idah (James Collins).

Suplentes não utilizados: James Talbot, Caoimhin Kelleher, Daryl Horgan, Harry Arter, Ryan Manning, Troy Parrott, Conor Hourihane.

Treinador: Stephen Kenny

Golo: John Egan (45’)




 

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

BRENTFORD FC


Desde 1947 que as “Abelhas” de Brentford não participavam no campeonato principal inglês e na estreia da época 21/22 o sorteio reabilitou os confrontos entre o oeste e o norte de Londres.

O primeiro jogo do Brentford FC na Premier League, 74 anos depois e já com os adeptos ansiosos na bancada na ordem dos 16.479 espectadores, terminou com uma vitória extraordinária por 2-0 frente ao Arsenal FC, com golos de Sergi Canós e Christian Nørgaard.

No início do jogo, o 11 titular de Brentford FC detinha 10 minutos de experiência na Premier League através de Ivan Toney. No final uma vitória memorável.

No regresso ao palco maior as “Abelhas” de Brentford (The Bees) alinharam com: David Raya; Kristoffer Ajer (Bech Sørensen 71’), Rico Henry, Pontus Jansson (C), Ethan Pinnock; Sergi Canós, Frank Onyeka (Mads Bidstrup 80’), Christian Nørgaard, Vitaly Janelt; Ivan Toney, Bryan Mbeumo (Marcus Forss 86’)

Suplentes não utilizados: Patrik Gunnarsson, Charlie Goode, Mads Roerslev, Saman Ghoddos, Yoane Wissa, Alil Dervişoğlu.

Treinador: Thomas Frank


GERHARD "GERD" MULLER: O Bombardeiro

"A área era o meu reino. Nunca marquei muitos golos fora dela."

"É preciso saber marcar como se fôssemos cegos. Ajuda imenso saber rematar à baliza sem olhar."

GERD MULLER

Müller era baixo, atarracado, de aparência estranha e não particularmente rápido, nunca faria jus à ideia convencional do que é um grande jogador de futebol, mas a verdade é que tinha uma aceleração letal em distâncias curtas, um jogo aéreo notável, e o instinto de golo estava-lhe na pele. As suas pernas curtas deram-lhe um centro de gravidade tão baixo, o que lhe permitia rodar e virar-se rapidamente em espaços tão curtos e com um equilíbrio perfeito, ao contrário da maioria dos jogadores.”

DAVID WINNER

Gerhard “Gerd” Müller, “O Bombardeiro” alemão de Nördlingen com 1,74 m de altura que registou históricos números de golos em épocas de poucos jogos, ainda é o recordista de golos na Bundesliga.

Era daqueles avançados que estava sempre à “mama”, explosivo e letal dentro da área,  artilharia pesada do golo, pesadelo infernal dos defesas, o terror dos guarda-redes.

Provavelmente o maior avançado-centro de sempre, que inspirou jogadores com a mesma estrutura fisica como Romário ou Sérgio “Kun” Agüero.

Com 566 golos em 607 jogos oficiais pelo Bayern Munique, “O Goleador da Nação Alemã” conquistou 4 Bundesliga; 4 Taças da Alemanha; 3 Taças dos Campeões Europeus (73/74 com 1-1/4-0 sobre o Atlético de Madrid - 74/75 com 2-0 sobre o Leeds United e 75/76 com 1-0 sobre o AS Saint-Étienne); 1 Taça Intercontinental (2-0/0-0 sobre o Cruzeiro EC); 1 Taça das Taças (1-0 sobre o Glasgow Rangers).



Na selecção da Alemanha, “Mannschaft”, Gerd Müller fez 62 jogos e marcou 68 golos com uma média de 1,1 golos por jogo. Conquistou 1 Mundial, o “RFA74” (2-1 sobre a Holanda com 1 golo) e 1 Europeu, o “EURO72” (3-0 sobre a União Soviética com 2 golos).


O Bombardeiro” conquistou 1 Bola de Ouro (Melhor jogador da Europa) e mais 1 Bola de Prata e 2 Bolas de Bronze; 2 Botas de Ouro (Melhor marcador dos campeonatos europeus) e mais 1 Bota de Prata e 1 Bota de Bronze; 1 vez Melhor Marcador do Mundial México70 (10 golos); 1 vez Melhor Marcador do Euro72 (4 golos); 7 vezes o Melhor Marcador da Bundesliga; 4 vezes Melhor Marcador da Taça dos Campeões.


Os números de Gerd Müller são simplesmente extraordinários na proporção entre jogos e golos obtidos: 427 jogos e 365 golos na Bundesliga; 62 jogos e 78 golos nas Taças nacionais; 71 jogos e 62 golos em competições da UEFA.

Gerhard “Gerd” Müller começou no TSV 1861 Nördlingen (31 jogos e 51 golos) e acabou nos norte-americanos do Fort Lauderdale Strikers (80 jogos e 40 golos). Ainda assim fez uma época nos campeonatos regionais norte-americanos pelos Smith Brothers Lounge Fort Lauderdale.

 

sábado, 28 de agosto de 2021

EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA: O Pantera Negra


Às vezes até és bem-educado em casa, mas quando jogas um bocado mais julgas logo que és o melhor. Não pode ser. Tens de saber estar, com os pés no chão, ser humilde. Sempre.”

O futebol não melhorou, evoluiu, da bola às chuteiras, às camisolas, aos métodos de treino - tudo em seu redor.”

Estou feliz pelo jogador que agora assina um contrato e ganha muito dinheiro. Os jogadores da minha altura ajudaram a tornar isso possível.”

A equipa não mudou muito em 10 anos. Consegues imaginar jogar na mesma equipa 10 anos? Hoje, infelizmente, isso já não acontece. Depois de jogarmos juntos 10 anos, nem precisávamos de treinador! Se eu pegasse na bola, os outros jogadores já sabiam o que eu ia fazer, ou quando o Simões pegava na bola, todos sabíamos o que ele ia fazer e para onde tínhamos de correr para receber o passe e marcar um golo. Fácil!"

Na minha opinião, o jogador mais completo foi o Alfredo Di Stefano. Todos são grandes jogadores, mas Di Stefano tinha tudo.

O meu ídolo era o Di Stefano. Na final contra o Real Madrid pedi ao Coluna para falar com ele e pedir-lhe a camisola. Quando o jogo acabou, só me preocupei com isso. Tinha acabado de ser campeão europeu e só pensava na camisola do Di Stefano.”

"Pelé, tu não és melhor do que eu e eu não sou melhor do que tu. Não há comparações, isso é para jornalistas. O Garrincha é melhor do que nós e tem uma perna torta!"

"Ainda me lembro que, em miúdo, nunca pensei chegar onde estou, mas tudo sucedeu porque sempre tive os dois pés bem assentes no chão e caminhei com a cabecinha."

"Fui logo convocado para jogar com o Atlético. A data é inesquecível: 23 de maio de 1961. Foi tudo emocionante e acabei por confirmar as credenciais, com uma boa exibição na vitória por 4-2 e três golos marcados ao antigo guarda-redes do Benfica José Bastos. Foi o princípio da caminhada."

Um dia estava com o Torres e disse-lhe: "Esta é a equipa do Benfica? Quando puder jogar, vou ser titular." Ficou parvo: "Vais?", perguntou. E eu: "Vou, claro!"

"No Benfica, estavam já os colegas a comer em casa e eu continuava ali no campo a chutar bolas. Imaginava uma barreira, um guarda-redes e batia livres e penáltis."

O meu golo preferido foi contra o La Chaux de Fonds, da Suíça, para a Taça dos Campeões em 64 no Estádio da Luz, 5-0. Na selecção foi o penalty depois daquela jogada contra a Coreia. Dei para aí 16 toques na bola.”

A maldição do Béla Guttmann é uma mentira. Aquilo que eu sei é que ele chamou o Caiado ao centro do campo e disse: ‘Caiado, gostava de ter uma estátua aqui’."

"Em dezembro de 1961 fui submetido à primeira intervenção cirúrgica da minha vida, no hospital da CUF. Até final seriam sete operações, seis das quais ao joelho esquerdo. As consequências dos excessos - meus, que quis jogar sempre, e dos meus adversários, que me massacraram - estou a pagá-las agora."

"A maior alegria que tive foi com a minha primeira vitória internacional, em 1962, quando o Benfica venceu a Taça dos Campeões Europeus. E a maior tristeza foi a derrota nas meias-finais, no campeonato mundial de 1966."

Contra o Manchester United na final de 68, joguei lesionado, mas tenho o golo a 3 minutos para acabar e éramos campeões. Chorei de raiva por não ter rematado de primeira e ao ter rematado com o pé esquerdo entreguei a bola ao guarda-redes.

"Tinha eu 22 anos e só não fui porque estava na tropa e o Salazar não quis. Foi um ano depois de termos ganho a Taça dos Campeões Europeus e a Juventus queria que eu fosse para lá. O Benfica deve ter falado com o Salazar, que me mandou chamar e disse-me que eu não podia sair do país porque era património do Estado."

Estive quase no Inter de Milão depois do Mundial 66, mas tive azar, a Federação italiana fechou a porta aos estrangeiros.

"Se me dessem a escolher gostaria de morrer ali [Estádio da Luz]. É uma casa que me fez homem, onde estou desde os 18 anos. Nós não escolhemos, mas eu gostava... E já agora num jogo de emoção e com uma vitória do Benfica."

"Não há comparação. Eu joguei 60 jogos e marquei 40 golos. Só agora, depois de tantos anos, outro vai marcando. Agora é mais fácil jogar com as outras equipas. Eu nunca joguei com Liechtenstein, nunca joguei com o Azerbaijão. Fico triste, porque não se podem fazer comparações dessas."

Eu só queria ser jogador da bola”.

Com 12 anos já não estava a jogar com os rapazes da minha idade, jogava com rapazes de 15, 16, 17 anos! Tenho essa vaidade: dava um baile. Era um pé-descalço, mas dava baile! Eles eram grandes, matulões, mas eu passava por eles à vontade.

No nosso bairro jogávamos por castanhas, berlindes. Era assim: ‘Malta, tenho aqui cinco berlindes, eu dou 50 toques, 25 com pé esquerdo, 25 com pé direito. Se perder dou-vos os berlindes, se ganhar são vocês que me dão os vossos.’ À primeira tentativa, eu fingia e deixava cair. Porquê? Para puxar a clientela."

Ninguém do meu bairro gostava do Sporting Lourenço Marques. Sabem porquê? Porque era um clube de elite, um clube da polícia, que não gostava das pessoas de cor, era racista! Mas os meus amigos queriam lá ir treinar e um dia lá fomos e jogámos todos na mesma equipa contra os que lá estavam: acabámos com aquela porcaria! Demos uns sete ou oito e já não voltámos a casa a pé, mas na carrinha Volkswagen do clube.”

O meu primeiro clube em Moçambique foi “Os Brasileiros”, do bairro da Mafalala. Era um clube de pés-descalços. Mas o meu clube do coração era o Desportivo de Lourenço Marques, que era filial do Benfica.

O primeiro clube a manifestar interesse na minha contratação foi o FC Porto. O Benfica foi o terceiro e o Sporting queria que eu fosse à experiência. Lá em casa todos éramos do Benfica.”

Somos uma família de oito irmãos e tivemos sempre educação: três são engenheiros, e eu sou o único que tenho a 4.ª classe. Mas hoje orgulho-me de ser o gajo que não estudou, mas que é o mais conhecido da família no mundo [risos].”

Essa história do rapto foi uma invenção. Eu pergunto: então se o Benfica me tivesse raptado, eu iria gostar de uma equipa que me tinha feito isso? Também pergunto: Quem é que pagou as passagens para vir para Portugal? Vim a nado, apanhei boleia? Invenções...

Fui o melhor marcador do Campeonato do Mundo 66 mas, no grande prémio (Bola de Ouro), perdi por um voto para o Bobby Charlton. O correspondente em Portugal da “France Football” não votou em mim. Se o tivesse feito, colocando-me em terceiro, seria o suficiente para ganhar. Não deu para entender. Nunca falei com ele sobre o assunto.

Acreditei, cá bem no fundo de mim próprio, que ia ser campeão mundial em 1966. Achei que era esse o nosso destino. Quando o jogo acabou, senti-me perdido e chorei sem parar no meio de muita gente que estava no relvado.”

Apesar de ter uma carreira bonita, cheia de vitórias e reconhecimento pessoal um pouco por toda a parte, foi no Campeonato do Mundo de 66 que vivi os momentos mais marcantes da carreira. Pena não termos sido campeões, como merecíamos. Mas houve quem preferisse ganhar outras coisas. Refiro-me à alteração de local da meia-final com a Inglaterra. O jogo devia ter sido em Liverpool, onde estávamos, mas a Federação portuguesa recebeu o dinheiro e limpou as mãos.

"Já tinha avisado o treinador do Beira-Mar que não ia rematar à baliza. Eu entrei no balneário do Benfica e disse à malta: Olhem malta, eu vou jogar mas não há problema que não há golos. Não rematei, não marquei faltas nem grandes penalidades... andava lá no campo só a passar a bola aos outros. E nesse ano o Beira-Mar ganhou ao Sporting e o Benfica foi campeão."

Não entendo nem quero entender de política. A minha política sempre foi e será a bola. Aí é que eu posso discutir e falar com qualquer político do mundo - com a bola, estou à vontade.

EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA

 

Eusébio cresceu no bairro da Mafalala em Lourenço Marques, Moçambique, a desafiar a bola de trapos e a calejar os pés descalços no futebol de rua em caminhos de terra batida.

O Clube inventado no Bairro foi “Os Brasileiros”, por um presidente doente pelo “Os Belenenses” e por Matateu, onde começou a envergar uma camisola e a aprender a driblar com uma bola de borracha os miúdos mais velhos, alimentando o sonho de jogar no Desportivo.

O sonho de “Magagaga” jogar pelo Desportivo foi rasgado pelo treinador que o recusou no treino em ocasiões diferentes, empurrando-o, a ele e a mais 4, a tentar a sorte no vizinho Sporting de Lourenço Marques. Aos 16 anos o franzino de Mafalala começou a jogar nos júniores leoninos e com 17 estava pronto para jogar nos séniores.


Não demorou muito tempo a despertar a curiosidade de diversos clubes, através dos olheiros em Moçambique e inspirados pela euforia da comunicação social. Diz-se que “Os Belenenses” de Otto Glória foi o primeiro clube a testar as qualidades de Eusébio numa digressão a Moçambique. No entanto, fruto da fraca prestação do moçambicano, Otto Glória questionado pelos jornalistas afirmou: “Eusébio? Como ele há lá muitos...

Esta afirmação fez refrear o entusiasmo do Sporting CP no jogador e por isso pretendia o cumprimento de um período de observação ou experiência, mesmo com as recomendações dos dirigentes do Sporting LM e dos seus olheiros no território.

Entretanto, o brasileiro José Carlos Bauer, a treinar em Moçambique, faz referência ao São Paulo FC sobre as qualidades de “Magagaga”, mas, perante o desinteresse do clube brasileiro, acaba por recomendar o jogador a Bella Guttmann, do SL Benfica, com quem tinha trabalhado no Brasil. Já era muita gente a falar de Eusébio e o húngaro aprovou.

Nas dúvidas leoninas os encarnados foram incisivos e ofereceram 250 contos à família de Eusébio conseguindo a assinatura de um contrato. Mas, inseguros de provável contra-ataque do Sporting CP, os encarnados tomaram precauções.

Segundo Nuno Martins, colega de Eusébio no Sporting LM em 1960, “Conta-se que o Major Rodrigues de Carvalho foi à estação central dos Correios, Telégrafos e Telefones de Lourenço Marques, ao lado do Café Scala, na parte baixa da cidade, e emitiu dois telegramas. Um para o Sporting Clube de Portugal, a dizer: 'Eusébio segue navio motor, Príncipe Perfeito'. E outro para o Benfica: 'Ruth, segue avião hoje'”.

Assim, Eusébio da Silva Ferreira, como Ruth Malosso, chegou a Lisboa a 17 de Dezembro de 1960, com 18 anos e prestes a fazer 19 anos (25 de Janeiro de 1961), para jogar no SL Benfica. Porém, o processo de inscrição apenas permitiu que a sua estreia se realizasse 6 meses depois, perdendo inclusivamente a possibilidade de jogar a Final da Taça dos Campeões de 61.

O processo de inscrição não foi pacífico, Sporting CP (acordo com Sporting LM) e SL Benfica (acordo com a família do Jogador) reclamavam ter o vínculo legal sobre o jogador. Só a 13 de Maio de 1961 o processo chega ao fim, a troco de 400 contos para os cofres do Sporting de Lourenço Marques, com o Benfica a inscrever Eusébio.

A 23 de Maio de 1961, Eusébio fez a sua estreia com a camisola encarnada num jogo amigável frente ao Atlético Clube de Portugal, do Guarda-redes Bastos, no qual apontou 3 golos na vitória  encarnada por 4-2. “Poderia ter feito melhor. O terreno estava muito molhado”, afirmou Eusébio no fim.

No entanto, só a 1 de Junho de 1961, o “Pantera Negra” fez a sua estreia oficial pelo SL Benfica, num jogo a contar para a segunda mão dos oitavos de final da Taça de Portugal, no Campo dos Arcos, em Setúbal, frente ao Vitória FC.

O SL Benfica tinha acabado de conquistar a Taça dos Clubes Campeões Europeus e por isso a equipa principal não estava disponível para realizar o encontro no dia seguinte, no entanto, o Vitória de Setúbal recusou adiar o jogo quando na primeira mão tinha perdido por 3-1, e assim o "Clube da Luz" teve que se apresentar com a equipa de reservas onde se encontrava Eusébio pelas questões relacionadas com o processo de inscrição.

O Vitória de Setúbal acabou por vencer por 4-1, com 2 golos de Quim e outros 2 de Pompeu, dando a volta à eliminatória. Eusébio marcou o seu primeiro golo oficial, aos 64 minutos, batendo o guarda-redes sadino Mourinho Félix que, por seu lado, defendeu um penalty do “Pantera Negra”, aos 73 minutos, quando o resultado estava em 3-1.

A 10 de Junho de 1961, na última jornada da época 60/61, Eusébio estreou-se pela equipa principal e no campeonato nacional, num jogo frente ao “Os Belenenses” disputado no Restelo em que o SL Benfica venceu por 4-0, tendo marcado o seu primeiro golo na história da competição aos 30 minutos, sagrando-se também Campeão Nacional.

A 8 de Outubro de 1961, Eusébio fez a sua estreia pela selecção nacional, convocado por Fernando Peyroteo, e a coisa não correu muito bem com a inesperada derrota por 2-4 frente ao Luxemburgo e uma exibição modesta apesar do golo marcado no primeiro jogo com a camisola das quinas. No final da carreira Eusébio somou 64 jogos e marcou 41 golos em 5594 minutos.

A 29 de março de 1975, Eusébio da Silva Ferreira fez o seu último jogo com a camisola do SL Benfica, num jogo com o Oriental (0-0), liberto para tentar reforçar a conta bancária no soccer americano.

Isto depois de: 11 Campeonatos I Divisão de Portugal; 1 Campeonato I Divisão de Moçambique; 5 Taças de Portugal; 1 Taça dos Clubes Campeões Europeus (Benfica - 5 – Real Madrid – 3); 1 Bola de Ouro (Melhor Jogador europeu); 2 Bolas de Prata (Segundo melhor jogador europeu); 2 Botas de Ouro (Melhor marcador dos campeonatos nacionais europeus); 7 vezes Melhor Marcador do Campeonato Português; 1 Melhor marcador do Mundial 66 (9 golos); 3 vezes Melhor Marcador da Taça dos Campeões Europeus.





Em relação a golos, há quem afirme que Eusébio marcou 766 golos em 741 partidas ou 733 golos em 745 jogos ou então 596 golos em 557 jogos (entre 1961 e 1975 pelo SL Benfica) mas, segundo o Afonso de Melo, golos certos, certos são estes:

320 golos marcados no campeonato nacional (317 pelo Benfica e 3 pelo Beira-Mar);

3 golos pelo União de Tomar na II Divisão;

97 golos marcados na Taça de Portugal (todos pelo Benfica);

57 golos marcados no conjunto das provas europeias – Taça dos Campeões, Taça das Taças, Taça UEFA (todos pelo Benfica);

2 golos na Taça Intercontinental;

41 golos marcados pela selecção nacional;

9 golos pela selecção militar;

19 golos marcados pelas reservas do Benfica;

77 golos pelo Sporting de Lourenço Marques;

8 golos pela selecção da UEFA;

1 golo pela selecção da FIFA;

2 golos marcados pelo Boston Minutemen;

1 golo pelo Monterrey;

5 golos pelo New Jersey Americans;

21 golos pelo Toronto Metros-Croatia;

2 golos pelo Las Vegas Quicksilver.

Que somam 665 golos. Se juntarmos mais:

7 golos pelas reservas do Benfica em jogos particulares;

45 golos distribuídos pelas mais diversas equipas do mundo.

O total sobe para 717 golos.









Definitivamente, Eusébio da Silva Ferreira, do bairro da Mafalala, reservou o seu lugar na história do futebol português e mundial.