“O futebol não melhorou, evoluiu, da
bola às chuteiras, às camisolas, aos métodos de treino - tudo em seu redor.”
“Estou feliz pelo jogador que agora
assina um contrato e ganha muito dinheiro. Os jogadores da minha altura
ajudaram a tornar isso possível.”
“A equipa não mudou muito em 10
anos. Consegues imaginar jogar na mesma equipa 10 anos? Hoje, infelizmente,
isso já não acontece. Depois de jogarmos juntos 10 anos, nem precisávamos de
treinador! Se eu pegasse na bola, os outros jogadores já sabiam o que eu ia
fazer, ou quando o Simões pegava na bola, todos sabíamos o que ele ia fazer e
para onde tínhamos de correr para receber o passe e marcar um golo. Fácil!"
“Na minha opinião, o jogador mais
completo foi o Alfredo Di Stefano. Todos são grandes jogadores, mas Di Stefano
tinha tudo.”
“O meu ídolo era o Di Stefano. Na
final contra o Real Madrid pedi ao Coluna para falar com ele e pedir-lhe a
camisola. Quando o jogo acabou, só me preocupei com isso. Tinha acabado de ser
campeão europeu e só pensava na camisola do Di Stefano.”
"Pelé, tu não és melhor do que
eu e eu não sou melhor do que tu. Não há comparações, isso é para jornalistas.
O Garrincha é melhor do que nós e tem uma perna torta!"
"Ainda me lembro que, em miúdo,
nunca pensei chegar onde estou, mas tudo sucedeu porque sempre tive os dois pés
bem assentes no chão e caminhei com a cabecinha."
"Fui logo convocado para jogar
com o Atlético. A data é inesquecível: 23 de maio de 1961. Foi tudo emocionante
e acabei por confirmar as credenciais, com uma boa exibição na vitória por 4-2
e três golos marcados ao antigo guarda-redes do Benfica José Bastos. Foi o
princípio da caminhada."
“Um dia estava com o Torres e
disse-lhe: "Esta é a equipa do Benfica? Quando puder jogar, vou ser
titular." Ficou parvo: "Vais?", perguntou. E eu: "Vou,
claro!"
"No Benfica, estavam já os
colegas a comer em casa e eu continuava ali no campo a chutar bolas. Imaginava
uma barreira, um guarda-redes e batia livres e penáltis."
“O meu golo preferido foi contra o
La Chaux de Fonds, da Suíça, para a Taça dos Campeões em 64 no Estádio da Luz,
5-0. Na selecção foi o penalty depois daquela jogada contra a Coreia. Dei para
aí 16 toques na bola.”
“A maldição do Béla Guttmann é uma
mentira. Aquilo que eu sei é que ele chamou o Caiado ao centro do campo e
disse: ‘Caiado, gostava de ter uma estátua aqui’."
"Em dezembro de 1961 fui
submetido à primeira intervenção cirúrgica da minha vida, no hospital da CUF.
Até final seriam sete operações, seis das quais ao joelho esquerdo. As
consequências dos excessos - meus, que quis jogar sempre, e dos meus adversários,
que me massacraram - estou a pagá-las agora."
"A maior alegria que tive foi
com a minha primeira vitória internacional, em 1962, quando o Benfica venceu a
Taça dos Campeões Europeus. E a maior tristeza foi a derrota nas meias-finais,
no campeonato mundial de 1966."
“Contra o Manchester United na final
de 68, joguei lesionado, mas tenho o golo a 3 minutos para acabar e éramos
campeões. Chorei de raiva por não ter rematado de primeira e ao ter rematado
com o pé esquerdo entreguei a bola ao guarda-redes.”
"Tinha eu 22 anos e só não fui
porque estava na tropa e o Salazar não quis. Foi um ano depois de termos ganho
a Taça dos Campeões Europeus e a Juventus queria que eu fosse para lá. O
Benfica deve ter falado com o Salazar, que me mandou chamar e disse-me que eu
não podia sair do país porque era património do Estado."
“Estive quase no Inter de Milão
depois do Mundial 66, mas tive azar, a Federação italiana fechou a porta aos
estrangeiros.”
"Se me dessem a escolher
gostaria de morrer ali [Estádio da Luz]. É uma casa que me fez homem, onde
estou desde os 18 anos. Nós não escolhemos, mas eu gostava... E já agora num
jogo de emoção e com uma vitória do Benfica."
"Não há comparação. Eu joguei
60 jogos e marquei 40 golos. Só agora, depois de tantos anos, outro vai
marcando. Agora é mais fácil jogar com as outras equipas. Eu nunca joguei com
Liechtenstein, nunca joguei com o Azerbaijão. Fico triste, porque não se podem
fazer comparações dessas."
“Eu só queria ser jogador da bola”.
“Com 12 anos já não estava a jogar
com os rapazes da minha idade, jogava com rapazes de 15, 16, 17 anos! Tenho
essa vaidade: dava um baile. Era um pé-descalço, mas dava baile! Eles eram
grandes, matulões, mas eu passava por eles à vontade.”
“No nosso bairro jogávamos por
castanhas, berlindes. Era assim: ‘Malta, tenho aqui cinco berlindes, eu dou 50
toques, 25 com pé esquerdo, 25 com pé direito. Se perder dou-vos os berlindes,
se ganhar são vocês que me dão os vossos.’ À primeira tentativa, eu fingia e deixava cair.
Porquê? Para puxar a clientela."
“Ninguém do meu bairro gostava do
Sporting Lourenço Marques. Sabem porquê? Porque era um clube de elite, um clube
da polícia, que não gostava das pessoas de cor, era racista! Mas os meus amigos
queriam lá ir treinar e um dia lá fomos e jogámos todos na mesma equipa contra
os que lá estavam: acabámos com aquela porcaria! Demos uns sete ou oito e já
não voltámos a casa a pé, mas na carrinha Volkswagen do clube.”
“O meu primeiro clube em Moçambique
foi “Os Brasileiros”, do bairro da Mafalala. Era um clube de pés-descalços. Mas
o meu clube do coração era o Desportivo de Lourenço Marques, que era filial do
Benfica.”
“O primeiro clube a manifestar
interesse na minha contratação foi o FC Porto. O Benfica foi o terceiro e o
Sporting queria que eu fosse à experiência. Lá em casa todos éramos do
Benfica.”
“Somos uma família de oito irmãos e
tivemos sempre educação: três são engenheiros, e eu sou o único que tenho a 4.ª
classe. Mas hoje orgulho-me de ser o gajo que não estudou, mas que é o mais
conhecido da família no mundo [risos].”
“Essa história do rapto foi uma
invenção. Eu pergunto:
então se o Benfica me tivesse raptado, eu iria gostar de uma equipa que me
tinha feito isso? Também
pergunto: Quem é que pagou as passagens para vir para Portugal? Vim a nado,
apanhei boleia? Invenções...”
“Fui o melhor marcador do Campeonato
do Mundo 66 mas, no grande prémio (Bola
de Ouro), perdi por um voto para o Bobby Charlton. O correspondente em
Portugal da “France Football” não votou em mim. Se o tivesse feito,
colocando-me em terceiro, seria o suficiente para ganhar. Não deu para
entender. Nunca falei com ele sobre o assunto.”
“Acreditei, cá bem no fundo de mim
próprio, que ia ser campeão mundial em 1966. Achei que era esse o nosso
destino. Quando o jogo acabou, senti-me perdido e chorei sem parar no meio de
muita gente que estava no relvado.”
“Apesar de ter uma carreira bonita,
cheia de vitórias e reconhecimento pessoal um pouco por toda a parte, foi no
Campeonato do Mundo de 66 que vivi os momentos mais marcantes da carreira. Pena
não termos sido campeões, como merecíamos. Mas houve quem preferisse ganhar
outras coisas. Refiro-me à alteração de local da meia-final com a Inglaterra. O
jogo devia ter sido em Liverpool, onde estávamos, mas a Federação portuguesa
recebeu o dinheiro e limpou as mãos.”
"Já tinha avisado o treinador
do Beira-Mar que não ia rematar à baliza. Eu entrei no balneário do Benfica e
disse à malta: Olhem malta, eu vou jogar mas não há problema que não há golos.
Não rematei, não marquei faltas nem grandes penalidades... andava lá no campo
só a passar a bola aos outros. E nesse ano o Beira-Mar ganhou ao Sporting e o
Benfica foi campeão."
“Não entendo nem quero entender de
política. A minha política sempre foi e será a bola. Aí é que eu posso discutir
e falar com qualquer político do mundo - com a bola, estou à vontade.”
EUSÉBIO DA SILVA FERREIRA
Eusébio cresceu no bairro da
Mafalala em Lourenço Marques, Moçambique, a desafiar a bola de trapos e a
calejar os pés descalços no futebol de rua em caminhos de terra batida.
O Clube inventado no Bairro foi “Os
Brasileiros”, por um presidente doente pelo “Os Belenenses” e por Matateu, onde
começou a envergar uma camisola e a aprender a driblar com uma bola de borracha
os miúdos mais velhos, alimentando o sonho de jogar no Desportivo.
O sonho de “Magagaga” jogar pelo
Desportivo foi rasgado pelo treinador que o recusou no treino em ocasiões
diferentes, empurrando-o, a ele e a mais 4, a tentar a sorte no vizinho Sporting
de Lourenço Marques. Aos 16 anos o franzino de Mafalala começou a jogar nos
júniores leoninos e com 17 estava pronto para jogar nos séniores.
Não demorou muito tempo a despertar
a curiosidade de diversos clubes, através dos olheiros em Moçambique e
inspirados pela euforia da comunicação social. Diz-se que “Os Belenenses” de
Otto Glória foi o primeiro clube a testar as qualidades de Eusébio numa
digressão a Moçambique. No entanto, fruto da fraca prestação do moçambicano,
Otto Glória questionado pelos jornalistas afirmou: “Eusébio? Como ele há lá
muitos...”
Esta afirmação fez refrear o
entusiasmo do Sporting CP no jogador e por isso pretendia o cumprimento de um
período de observação ou experiência, mesmo com as recomendações dos dirigentes
do Sporting LM e dos seus olheiros no território.
Entretanto, o brasileiro José Carlos
Bauer, a treinar em Moçambique, faz referência ao São Paulo FC sobre as
qualidades de “Magagaga”, mas, perante o desinteresse do clube brasileiro, acaba
por recomendar o jogador a Bella Guttmann, do SL Benfica, com quem tinha
trabalhado no Brasil. Já era muita gente a falar de Eusébio e o húngaro aprovou.
Nas dúvidas leoninas os encarnados
foram incisivos e ofereceram 250 contos à família de Eusébio conseguindo a
assinatura de um contrato. Mas, inseguros de provável contra-ataque do Sporting
CP, os encarnados tomaram precauções.
Segundo Nuno Martins, colega de Eusébio no Sporting LM em
1960, “Conta-se que o Major Rodrigues de Carvalho foi à estação central dos
Correios, Telégrafos e Telefones de Lourenço Marques, ao lado do Café Scala, na
parte baixa da cidade, e emitiu dois telegramas. Um para o Sporting Clube de
Portugal, a dizer: 'Eusébio segue navio motor, Príncipe Perfeito'. E outro para
o Benfica: 'Ruth, segue avião hoje'”.
Assim, Eusébio da Silva Ferreira,
como Ruth Malosso, chegou a Lisboa a 17 de Dezembro de 1960, com 18 anos e
prestes a fazer 19 anos (25 de Janeiro de 1961), para jogar no SL Benfica.
Porém, o processo de inscrição apenas permitiu que a sua estreia se realizasse
6 meses depois, perdendo inclusivamente a possibilidade de jogar a Final da Taça dos
Campeões de 61.
O processo de inscrição não foi
pacífico, Sporting CP (acordo com
Sporting LM) e SL Benfica (acordo com
a família do Jogador) reclamavam ter o vínculo legal sobre o jogador. Só a 13
de Maio de 1961 o processo chega ao fim, a troco de 400 contos para os cofres
do Sporting de Lourenço Marques, com o Benfica a inscrever Eusébio.
A 23 de Maio de 1961, Eusébio fez a
sua estreia com a camisola encarnada num jogo amigável frente ao Atlético Clube
de Portugal, do Guarda-redes Bastos, no qual apontou 3 golos na vitória encarnada por 4-2. “Poderia ter feito melhor.
O terreno estava muito molhado”, afirmou Eusébio no fim.
No entanto, só a 1 de Junho de 1961,
o “Pantera Negra” fez a sua estreia oficial pelo SL Benfica, num jogo a contar
para a segunda mão dos oitavos de final da Taça de Portugal, no Campo dos
Arcos, em Setúbal, frente ao Vitória FC.
O SL Benfica tinha acabado de
conquistar a Taça dos Clubes Campeões Europeus e por isso a equipa principal
não estava disponível para realizar o encontro no dia seguinte, no entanto, o
Vitória de Setúbal recusou adiar o jogo quando na primeira mão tinha perdido
por 3-1, e assim o "Clube da Luz" teve que se apresentar com a equipa
de reservas onde se encontrava Eusébio pelas questões relacionadas com o
processo de inscrição.
O Vitória de Setúbal acabou por
vencer por 4-1, com 2 golos de Quim e outros 2 de Pompeu, dando a volta à
eliminatória. Eusébio marcou o seu primeiro golo oficial, aos 64 minutos,
batendo o guarda-redes sadino Mourinho Félix que, por seu lado, defendeu um
penalty do “Pantera Negra”, aos 73 minutos, quando o resultado estava em 3-1.
A 10 de Junho de 1961, na última
jornada da época 60/61, Eusébio estreou-se pela equipa principal e no
campeonato nacional, num jogo frente ao “Os Belenenses” disputado no Restelo em
que o SL Benfica venceu por 4-0, tendo marcado o seu primeiro golo na história
da competição aos 30 minutos, sagrando-se também Campeão Nacional.
A 8 de Outubro de 1961, Eusébio fez
a sua estreia pela selecção nacional, convocado por Fernando Peyroteo, e a
coisa não correu muito bem com a inesperada derrota por 2-4 frente ao
Luxemburgo e uma exibição modesta apesar do golo marcado no primeiro jogo com a
camisola das quinas. No final da carreira Eusébio somou 64 jogos e marcou 41
golos em 5594 minutos.
A 29 de março de 1975, Eusébio da
Silva Ferreira fez o seu último jogo com a camisola do SL Benfica, num jogo com
o Oriental (0-0), liberto para tentar reforçar a conta bancária no
soccer americano.
Isto depois de: 11 Campeonatos I
Divisão de Portugal; 1 Campeonato I Divisão de Moçambique; 5 Taças de Portugal;
1 Taça dos Clubes Campeões Europeus (Benfica
- 5 – Real Madrid – 3); 1 Bola de Ouro (Melhor
Jogador europeu); 2 Bolas de Prata (Segundo
melhor jogador europeu); 2 Botas de Ouro (Melhor marcador dos campeonatos nacionais europeus); 7 vezes Melhor
Marcador do Campeonato Português; 1 Melhor marcador do Mundial 66 (9 golos); 3 vezes Melhor Marcador da Taça dos
Campeões Europeus.
Em relação a golos, há quem afirme
que Eusébio marcou 766 golos em 741 partidas ou 733 golos em 745 jogos ou então 596
golos em 557 jogos (entre 1961 e 1975
pelo SL Benfica) mas, segundo o Afonso de Melo, golos certos, certos são estes:
320 golos marcados no campeonato nacional
(317 pelo Benfica e 3 pelo Beira-Mar);
3 golos pelo União de Tomar na II
Divisão;
97 golos marcados na Taça de
Portugal (todos pelo Benfica);
57 golos marcados no conjunto das
provas europeias – Taça dos Campeões, Taça das Taças, Taça UEFA (todos pelo Benfica);
2 golos na Taça Intercontinental;
41 golos marcados pela selecção
nacional;
9 golos pela selecção militar;
19 golos marcados pelas reservas do
Benfica;
77 golos pelo Sporting de Lourenço
Marques;
8 golos pela selecção da UEFA;
1 golo pela selecção da FIFA;
2 golos marcados pelo Boston
Minutemen;
1 golo pelo Monterrey;
5 golos pelo New Jersey Americans;
21 golos pelo Toronto
Metros-Croatia;
2 golos pelo Las Vegas Quicksilver.
Que somam 665 golos. Se juntarmos
mais:
7 golos pelas reservas do Benfica em
jogos particulares;
45 golos distribuídos pelas mais
diversas equipas do mundo.
O total sobe para 717 golos.
Definitivamente, Eusébio da Silva
Ferreira, do bairro da Mafalala, reservou o seu lugar na história do futebol
português e mundial.