No futebol nada está garantido. É um jogo de habilidades com os pés e exploração da inteligência. Muitas vezes a equipa que joga melhor com os pés não ganha à equipa que joga melhor com a cabeça.


sábado, 17 de julho de 2021

TAÇA DOS LIBERTADORES: 61 Edições

Em 61 edições da Taça Libertadores da América, apenas em 4 ocasiões a final foi disputada por duas equipas do mesmo país:

2005: S. Paulo vs Atlético Paranaense (1-1/4-0)

2006: Internacional vs S. Paulo (2-1/2-2)

2018: River Plate vs Boca Juniors (2-2/3-1)

2020: Palmeiras vs Santos (1-0)

O Club Atlético Independiente, da Argentina, com 7 Libertadores é o clube com mais vitórias na competição. Nunca perdeu uma final. A seguir surgem os argentinos do Club Atlético Boca Juniors com 6 e os uruguaios do Club Atlético Peñarol com 5 títulos.

Curiosamente, Boca Juniors (5) e Peñarol (5) são as equipas que mais finais perderam, seguidos por Club Olimpia do Paraguai (4) e Deportiva América de Cáli da Colômbia (4).

O Club Atlético River Plate da Argentina (20) é a equipa que mais vezes participou nas meias finais, tendo chegado à final em 7 ocasiões e conquistado a Libertadores 4 vezes.

O Brasil é o país com mais clubes campeões (10) e a Argentina é o país com mais títulos (25). O Brasil é também o país com mais finais perdidas (16).

O Equatoriano Alberto Spencer, pelo Peñarol e pelo Barcelona do Equador, é o melhor marcador da competição com um total de 54 golos. Os uruguaios Fernando Morena (37), pelo Peñarol, e Pedro Rocha (36), pelo Peñarol, S. Paulo e Palmeiras, fecham o pódium.

O treinador que mais Libertadores conquistou foi o argentino Carlos Bianchi com 4 títulos, um pelo Vélez Sarsfield e três pelo Boca Juniors. Seguido por outro argentino, Osvaldo Zubeldía que conquistou 3 títulos consecutivos pelo Estudiantes de La Plata.

Os únicos treinadores não sul-americanos a conquistar o troféu foram: O croata Mirko Jozić (Deportivo Colo-Colo em 1991), o português Jorge Jesus (CR Flamengo em 2019) e o português Abel Ferreira (SE Palmeiras em 2020). O húngaro Béla Guttmann (CA Peñarol) disputou a final de 1962 mas saiu derrotado pelo Santos.


PAULO FUTRE

No AC Milan não era para fazer jogo nenhum por causa das lesões. Mas consegui jogar no último jogo e fui campeão. Tinha uma atrofia total na perna e nunca mais fui o mesmo jogador.”

Em Milão, eles diziam ‘o último a operar é quem vai pagar se não jogas. Vais arruinar a vida de qualquer cirurgião, porque o AC Milan é um gigante e o médico que te opere e não jogues mais…’. Depois apareceu o Dr. Saillant.”

Estive lá 5 meses e nunca perdi com a camisola do Benfica. E faço o jogo mais completo da minha vida, naquela final com o Boavista, em que ganhamos a Taça de Portugal. Fiz dois golos, uma assistência e um penálti. Foi uma loucura.”

Na altura a rivalidade entre FC Porto e Benfica era tremenda. Jogadores do FC Porto de um lado e do Benfica do outro, não havia relação. E é no México que começamos a falar todos. Portanto, se houve alguma coisa positiva em Saltillo foi esquecer o clubismo.”

No Mundial-86, México, chegámos lá muito cedo. Demasiado cedo. Costumo dizer que chegámos lá primeiro que os mexicanos.”

Tínhamos chegado a acordo com o Inter de Milão, mas depois chegou um candidato à presidência do Atlético de Madrid cheio de dinheiro, o Gil y Gil."

O balneário do FC Porto era tremendo. Ali estava a mística, o Porto, matar pelo Porto, morrer pelo Porto, suar sangue pelo Porto. Tudo Porto.

Comecei a fumar com 12 anos. Foi no barco, naquelas viagens para os treinos, para passar o tempo comecei a fazer bolinhas de fumo, comecei a travar e nunca mais parei.”

O Toshack veio ter comigo e disse-me que não tinha espaço para mim na primeira equipa. No dia seguinte, veio no jornal: ‘Paulo Futre vai ser emprestado à Académica’. Ao terceiro dia apareceu o FC Porto.”

O Pinto da Costa tem uma frase importante: ‘Paulinho, aí não te querem, mas aqui vais ser tu e mais 10’."

A noite das eleições no Sporting foi uma grande confusão, até havia mortos a votar.

Já era embaixador do Atlético. Estava sentado, almoçado, a fumar e o Antíc diz-me para me equipar. Fiz dois golos em 20 minutos.”

Pensei, no Japão não tenho pressão, o dinheiro era praticamente o mesmo. Decidi com moeda ao ar. Estava no Algarve, moeda ao ar, saiu Japão, liguei para o gajo do Japão.”

Os treinadores mais marcantes? O Artur Jorge, sou campeão da Europa com ele. E o Luis Aragonés. E há outro que apesar de não ter jogado com ele, só fiz um jogo, também era fantástico ao nível de motivação, o Capello.

O Chalana, só com o corpo, tirava dois ou quatro defesas da frente dele, eu era com os braços. O movimento de braços.”

Eu com os pés era um génio.”

"Quando te dão uma caneta para assinares o primeiro autógrafo é como te darem uma pistola com cinco balas em seis buracos para jogares à roleta russa."

"Senti que fui tão grande no Atlético de Madrid, o maior jogador da história do clube."

"Fui o maior e faria tudo igual. Nunca mais apareceu ninguém a cair como eu."

El Piscinero? Era uma arte. Muitas vezes nem eu fazia ideia se tinha sido ou não penálti.

Quando o FC Porto perdia era um ciclone tremendo, cinzento, horrivel, a cidade chorava."

"A minha vida transformou-se completamente... Deu uma volta de 360 graus!..."

Fico sempre com esta frase do meu pai. Chego ao aeroporto e o meu pai dá-me um abraço e diz-me: ‘Uma jogada de génio, mas a definição é de jogador de distrital. Eu não te digo sempre para treinares mais a definição?’ E eu tinha acabado de ser campeão da Europa. Naquela jogada genial só ele é que viu logo que eu não queria passar a bola.

Gil y Gil foi um amigo enorme e um inimigo terrível. Não houve nem nunca haverá entre um presidente e um jogador uma história de amor e ódio como a que tivemos os dois. Morreu no dia em que regressei a Madrid e houve quem dissesse que ele esteve à minha espera para partir.

PAULO FUTRE

Na época 1983/84, Josef Venglos decidiu lançar na equipa principal do Sporting CP, no jogo contra o FC Penafiel (5-1), uma jovem promessa ainda júnior que chegava como prodígio das camadas jovens: O vendaval Paulo Jorge dos Santos Futre.

O novo treinador leonino, para a época 84/85, o galês John Benjamin Toshack, mexeu com a sua irreverência e as suas ambições e o FC Porto foi o porto de abrigo e seguro para embarcar numa longa e atribulada viagem no mundo do futebol.

No FC Porto ganhou 2 títulos nacionais consecutivos, 2 Supertaças portuguesas e ainda 1 Taça dos Campeões Europeus. Em 1987, ficou em 2.º lugar na Bola de Ouro (Ballon d'Or) da France Football, perdendo para o holandês Ruud Gullit do AC Milan por 15 votos (106 vs 91).

Foi sempre genial, vertical, imprevisível, indisciplinado tacticamente, “garganeiro” e “piscinero”. E no Atlético de Madrid de Jesús Gil y Gil encaixou como nenhum outro, apesar de poder jogar noutro patamar do futebol europeu.



A transferência para o Atlético de Madrid ficou para a história do clube, era a segunda transferência mais cara à época só ultrapassada pela de Diego Armando Maradona para o FC Barcelona.

Nos “Colchoneros” ganhou duas Taças do Rei. Na época 90/91 o “Atleti” ficou em segundo lugar atrás do Barcelona de Johann Cruijff e conquistou a Taça do Rei na final contra o RCD Mallorca (1-0). Na época 91/92 os “Rojiblancos” quedaram-se em terceiro lugar no campeonato (53 pontos) após uma luta renhida com o Barcelona (55 pontos) e o Real Madrid (54 pontos). Na final da Taça do Rei vitória sobre o Real Madrid por 2-0 no Santiago Bernabeu, com Futre a marcar o segundo golo.

Esgotada a estadia no Vicente Calderón, Paulo Futre regressa a Portugal para vestir a camisola do seu terceiro grande: o SL Benfica. Uma Taça de Portugal marcou o trajecto curto pelos “encarnados” antes de começar uma vertiginosa viagem por vários clubes e países, sempre perseguido por lesões implacáveis e por decisões irreflectidas que foram acelerando o declínio.



Na selecção jogou entre a decadência da Geração dos “Patrícios” e a ascensão da Geração de Ouro, numa altura em que o caso “Saltillo” tinha marcado a geração intermédia.

Integrou o grupo de "Os Infantes" de Saltillo no Mundial México86. O Mundial onde Futre ia “rebentar” mas que acabou por “rebentar” com o Futre. Nunca mais o “El portugués” jogou uma fase final de um Mundial ou de um “Euro”.

No EURO 88 na Alemanha, com Futre no auge da carreira, Portugal não conseguiu o apuramento ficando atrás de Itália e Suécia.

No Mundial Itália 90, ainda com Futre em grande no Atlético de Madrid, Portugal também não conseguiu a qualificação ficando atrás de Bélgica e Checoslováquia.

No EURO 92 na Suécia, já com alguns jogadores da geração de ouro, a selecção portuguesa não conseguiu a qualificação ficando em segundo lugar atrás do campeão europeu em título, Holanda.

No Mundial USA94, já com Futre fustigado pelas lesões, Portugal ficou atrás de Itália e Suiça e não conseguiu a qualificação.

No EURO 96 em Inglaterra a selecção portuguesa conseguiu a qualificação mas Paulo Futre não foi convocado.

Paulo Futre foi 41 vezes internacional pela selecção A e marcou 6 golos em 3161 minutos.


De Futre ficamos sempre com a sensação que podia ter tido uma outra carreira, mais recheada de títulos, troféus e reconhecimentos. Como dizia o próprio Futre “Eu com os pés era um génio” e a gestão da carreira necessitava de outros requisitos. No entanto, chegou para ser ídolo no Calderón.







 

quinta-feira, 15 de julho de 2021

PABLO AIMAR

Não gosto de ouvir dizer que não há jogadores criativos, sobretudo depois de fazerem 800 treinos automatizados. É muito provável que não haja se tudo for automatizado. Se há algum miúdo com 15 anos que finta os adversários, dizemos-lhe para não o fazer porque perdeu a bola duas ou três vezes. Sim, vão perder a bola duas ou três vezes, ou cinco ou dez…

Entendo a questão do jogo posicional, atacar os espaços, mas acho que nós treinadores temos de prestar atenção a essa suposta ou real falta de criatividade. Com estas defesas em bloco, só um criativo consegue passar. Um criativo é alguém que finta, que inventa algo diferente quando todos os outros fazem a mesma coisa.”

"É preciso criar ambientes criativos para os jovens. O futebol é feito de decisões, de imaginação. Futebol não é xadrez. A torre vai sempre para a frente e para os lados. O cavalo também faz sempre os mesmos movimentos. No futebol não é assim. É preciso deixar que os jovens jogadores errem, caso contrário não podemos esperar jogadores criativos.


O Jorge Jesus dizia que voávamos em Portugal, parecia que tínhamos visto os nossos 20 anos de idade no River. Éramos mais jovens. E realmente voávamos. Essa equipa de 2009/2010, com Javier Saviola, Angel Di Maria, Ramires, Javi García… levantávamos a cabeça e tínhamos jogadores a voar por todos os lados. Impressionante, uma grande equipa ofensivamente.

Há só uma bola e 22 jogadores em campo, e cada jogador só a toca durante 3 minutos em 90. Isso quer dizer que cada jogador, joga 87 minutos sem bola”.

Quem é que sabe mais de futebol? Quem vence? Eu creio que não. Acredito que quem mais sabe de futebol é quem mais ensinamentos deixa. É aí que começa a mãe de todas as conversas. Mas fala-se de outras coisas.”

A equipa de futebol que consegue evitar o pensamento individual, prevalece. Se consegues uma movimentação para que o golo seja marcado por um companheiro, és um génio. Se conseguires oferecer uma solução a um companheiro e que ele salte para as capas de revistas e tu nem sequer apareças, bárbaro, jogas pela equipa. No final de contas, os melhores jogadores de futebol são aqueles que fazem os outros jogarem bem. E eu já tive tipos assim, que não dizem nada, mas que te fazem melhor.”

Leo Astrada ou Roberto Fabián Ayala são jogadores que te dão capas de jornais e nem sequer aparecem. E há outros que fazem ambas as coisas. Fazem-te melhor e também saem na capa dos jornais. Mas esses são eleitos, como Riquelme ou Messi.”

Tive gente que me ensinou e agora devo seguir o caminho a partir das gerações mais jovens. Eu convivi com José Pékerman e até hoje recordo-me dos seus ensinamentos. Parava o treino e perguntava-me: Onde está a solução? Não me dizia, perguntava.”


Acho que só há uma maneira de melhorar um jogador de futebol: a paixão. Sem isso, não há possibilidade de desfrutar. Sem paixão, não há nada no futebol. Necessitamos desse amadorismo. Não podes ir fazer um horário de escritório num treino. Por isso custa-me acreditar em bons jogadores que dizem que não gostam de futebol.”

Somos a última geração que vê jogos inteiros. Hoje estão mais acostumados com o efémero. Um jogo de PlayStation dura apenas 5 ou 7 minutos. Hoje estão mais acostumados aos resumos.”

Conservar o amadorismo não significa não ter estratégia. Significa treinar com um sorriso. É uma filosofia não uma sistematização.”

Com Jorge Jesus aprendi coisas de aplicação do sentido comum, a paixão com que vivia, e deu-me também coisas maiores. Há uma altura em que o físico te pede para não jogares só por instinto. Tens de pensar mais, posicionar-te melhor.

Guardo três ou quatro frases de Jorge Jesus que uso hoje e nas quais ele tem toda a razão. Por exemplo hoje os jovens dizem muito que têm a bola pouco tempo: 'a bola não me chega'. Não há problemas, em ‘90 minutos tocas na bola cerca de três minutos’. 'Dos grandes jogadores, nenhum deles é ansioso'.”

"Os amigos que fiz no futebol são: Javi (Saviola), Guille (Pereyra), Chacho (Coudet), Maxi Pereira (Com quem joguei no Benfica), el Ratón (Ayala), el Flaco Pellegrino."


"O meu filho gosta muitissimo de futebol, está todo o dia com a bola, vemos juntos jogos na televisão, mas zero pressão, não o levei a lado nenhum, que desfrute.”

Creio que ser um bom treinador de treino / adjunto não é o mesmo que ser um bom treinador na óptica da maioria. No final, o bom treinador, para quase todos, é o que obtém resultados, mas, como jogador, os melhores treinadores que tive não foram os que mais títulos ganharam, mas sim os que me melhoraram como futebolista.”

"Para mim algo acontece quando vejo o Messi jogar em qualquer partida e digo: ‘Ninguém joga como este’. E quando vejo vídeos de Maradona passa-se o mesmo.”

Extraordinário é o que Messi faz em todas as partidas, não sei quantos dos grandes monstros da história do futebol jogaram assim em todas as partidas, realmente não sei.”

Quando Messi me pediu a camisola? Sim, ele fez isso várias vezes. Disse-lhe qualquer coisa como: ‘Você está a pedir-me a camisola? Isto é o mundo ao contrário’.”

Uma vez troquei de camisola com o Iniesta, e essa camisola guardo com muito carinho, na realidade com admiração.”

PABLO AIMAR





 

SUPERLIGA EUROPEIA: Uma Liga separada e separatista

"Vamos ajudar o futebol a todos os níveis a ocupar o seu devido lugar no mundo. O futebol é o único desporto global no mundo com mais de 4 mil milhões de adeptos e a nossa responsabilidade como grandes clubes é responder aos desejos dos adeptos".

FLORENTINO PÉREZ

"Os nossos 12 Clubes Fundadores representam milhares de milhões de adeptos em todo o mundo. Reunimo-nos neste momento crítico, para que a competição europeia possa ser transformada, dando ao desporto que amamos uma fundação sustentável para o futuro, aumentando substancialmente a solidariedade, e dando aos adeptos e jogadores amadores um sonho e jogos de alta qualidade que alimentarão a sua paixão pelo jogo."

ANDREA AGNELLI

Um desporto não é desporto quando a relação entre o esforço e a recompensa não existe. Um desporto deixa de ser desporto quando o sucesso é garantido e não importa se perdes. Não é justo quando uma equipa luta, luta e luta, chega ao topo, mas não consegue qualificar-se porque o sucesso já estava garantido para alguns outros clubes."

PEP GUARDIOLA

Fala-se de uma Superliga Europeia desde os anos 1980, mas a 19 de abril de 2021, a Superleague, Lda apresentou um projecto de uma competição fechada com 20 equipas, denominada Super Liga Europeia (European Super League), com 15 clubes fundadores e 5 clubes convidados anualmente.

Na apresentação do projecto surgiram 12 clubes fundadores (FC Barcelona, ​​Real Madrid CF, Club Atletico Madrid, Arsenal FC, Chelsea FC, Liverpool FC, Manchester City FC, Manchester United FC, Tottenham Hotspur FC, Juventus FC, AC Milan, FC Internazionale Milano), dado que Paris Saint-Germain FC, Bayern Munique e Borussia Dortmund não acompanharam. Florentino Pérez (Real Madrid) foi indicado como presidente deste projecto, coadjuvado por Andrea Agnelli (Juventus) e Joel Glazer (Manchester United).

Neste circuito fechado de provas os clubes fundadores tinham a garantia de permanência no grupo, independente do percurso desportivo.

O objectivo era claramente financeiro e não desportivo, dado que os clubes promotores da ideia não disfarçaram algumas dificuldades financeiras, devido à pandemia e por estarem reféns das quantias  megalómanas do circo do futebol, apesar de manterem o rótulo de clubes mais poderosos da europa ou integrados nas 5 ligas mais competitivas (Espanha, Inglaterra, Alemanha, França e Itália).

Para estes clubes, o modelo da Champions League estava ultrapassado porque só a partir dos quartos de final despertava interesse global e resultados financeiros. No fundo era criar um torneio dos clubes mais poderosos que distribuiriam o dinheiro entre si nessa sociedade fechada e sem obediência à UEFA e ao seu controlo absoluto.


No entanto, a reacção global foi demasiado negativa e obrigou os clubes participantes a repensar os propósitos da sociedade.

A UEFA reagiu de forma enérgica e crítica numa declaração conjunta com a Federação Inglesa de Futebol, a Premier League, a Real Federação Espanhola, a La Liga, a Federação Italiana de Calcio e a Serie A e ameaçou banir os clubes participantes das suas competições nacionais.

Da mesma forma, a FIFA e a Associação Europeia de Clubes (ECA) criticaram a criação de uma competição independente, o primeiro-ministro inglês Boris Johnson considerou que os planos para uma Superliga Europeia seriam muito prejudiciais para o futebol e para as suas autoridades, enquanto o presidente francês Emmanuel Macron garantiu actuação por forma a proteger a integridade das competições das federações contra um projecto que ameaçava o princípio da solidariedade e o mérito desportivos.

Foi realmente uma reacção rápida, condenatória, apaixonada e emocional, nomeadamente por parte dos adeptos ingleses.






A reação furiosa da Premier League, da UEFA, de outras ligas europeias, de governos e dos adeptos fez tremer o projecto e no espaço de 48 horas começou a desmoronar. No fundo, o objectivo sempre foi forçar a UEFA a repensar a competição e/ou a distribuir mais dinheiro entre os participantes. Coisa conseguida mas não com os valores pretendidos.

Dos 12 fundadores iniciais apenas Barcelona e Real Madrid não suspenderam o interesse, mantendo o processo em banho-maria, com futuro incerto, mas sem condições para continuar na data pretendida.


 

terça-feira, 13 de julho de 2021

MANCHESTER CITY: Fundação

A ancestralidade do Manchester City Football Club tem como cenário West Gorton e a Igreja de S. Marcos (St Mark’s Church) em Manchester.

Em 1879, Arthur Connell era o reitor da Igreja de São Marcos em West Gorton, numa zona e numa época de tremenda privação, de sobrelotação, miséria, saneamento precário e pobreza, de recurso a bebidas e guerras de gangues para ocupar os desocupados pelo desemprego. A gravidade da situação preocupava o reitor que procurava soluções para alterar o rumo dos acontecimentos. Inicialmente, inaugurou um refeitório para auxílio dos mais pobres e depois seguiu o empenho da sua filha Anna Connell que se envolveu em encontrar alternativas para inverter as tendências.

Anna acreditava que a prática desportiva podia ser um recurso decisivo e envolveu-se na fomentação da organização de clubes e de competições locais, nomeadamente na criação da equipa de críquete da Igreja de St. Marks em 1880.


No seio do Clube nasceu também uma secção de futebol, St. Marks West Gorton Football Club, que tem o seu primeiro jogo registado contra a Igreja Baptista Football Club de Macclesfield, em 13 de novembro de 1880, e com uma derrota por 1-2. Hornby marcou o primeiro golo da equipa. No entanto, a equipa de futebol depressa entrou em conflito com os interesses da equipa de críquete motivando a separação e a fusão com o Gorton Athletic para formar o Gorton Association Football Club.



Em agosto de 1887 a equipa mudou-se para a zona de Ardwick em Hyde Road e com isso nasceu um novo clube: o Ardwick Association Football Club, para participar na Divisão Dois. Em 1891 o Ardwick conquistou a Manchester Cup pela primeira vez ao derrotar o Newton Heath (a origem do Manchester United) por 1-0 na final.

ARDWICK AFC (2-3-5): William Douglas, P. Bennett, David Robson, John Milne, Daniel Whittle, H. Davidson, Joe Davies, Walter McWhinnie, David Weir, William Lambie, William McColl .

NEWTON HEATH (2-3-5): John Slater, Charles Felton, John Clements, Roger Doughty, William Stewart, Jack Owen, Alf Farman, Thomas Craig, Robert Ramsay, William Sharpe, Bob Milarvie .

Golo:1-0 David Weir (7’)


Porém, dificuldades financeiras provocadas por falta de rigor na administração do clube azul e branco obrigaram a intervenção de uma sociedade que criou uma empresa privada para actividades desportivas designada Manchester City Football Club Company Limited, que introduziu alterações profundas na estrutura.


A 16 de abril de 1894 nasceria o Manchester City FC, 
sob liderança de John Chapman, com ambições restauradas e significativas manifestações de crescimento por parte dos adeptos. Mantiveram o manager Joshua Parlby (Substituído depois por Samuel Ormerod), adoptaram o azul celeste de Cambridge e começaram por contratar a estrela galesa Billy Meredith.

Na época 1898/99 ganhou o campeonato da Divisão Dois e consequentemente subiu à primeira divisão para jogar pela primeira vez na época 1899/1900.

Na época 1903/04 o Manchester City FC, do manager Tom Maley, conquistou a primeira Taça de Inglaterra com a vitória por 1–0 sobre o Bolton Wanderers Football Club.



A HISTÓRIA DE CARLOS SILVA



A 02/08/1926 o jornal desportivo “Os Sports” publicou uma entrevista com Carlos Silva, um português emigrado 40 anos antes para Inglaterra, que se apresentou como um dos fundadores do Manchester City FC.

Carlos Silva adianta que jogou a defesa direito na equipa do Ardwick Green, um “team” pobre cujas receitas dos jogos não davam para pagar aos profissionais da equipa e que por isso os amadores e alguns dirigentes tinham de esmolar dos espectadores no fim de cada “match”. Era um clube pobre, sem recursos e destinado a desaparecer.

Nessa altura teve a iniciativa de propôr a fundação de um novo clube, com um capital de 5000 libras, e em pouco tempo conseguiram colocar esse valor em acções do Manchester City.

Diz que em 1893, iniciaram os trabalhos de organização e instalação, arranjo de campo e compra de jogadores. Aproveitaram os jogadores profissionais do Ardwick Green e adquiriram o trespasse de outros, nomeadamente do famoso Meredith.

Refere que na discussão sobre a cor do equipamento, propôs e foi aceite, que as cores da bandeira de Portugal (Entre 1834 e 1910 a bandeira portuguesa era azul e branca) ficassem representadas: A camisola azul celeste e o calção branco.


Perante esta entrevista contactei Gary James, que já escreveu sobre a história do manchester City, para obter a sua opinião sobre o conteúdo. De Gary James recebi o seguinte parecer:

“Yes. Thanks. His dates don't add up with MCFC's history and the club was wearing blue and white from 1887 plus there's no record of him as a player at the club. So, reluctantly, it looks like he either made the story up or exaggerated it. I guess he felt no one in England would ever see the article. I did want this to be true but it doesn't add up. Sorry. Gary”





 

sábado, 10 de julho de 2021

HERBERT CHAPMAN: A mãe de todas as tácticas


Quando o Presidente Henry Norris decidiu, em 1925, que o Arsenal precisava de um novo manager, não podia adivinhar o impacto dessa contratação.

A 11 de maio de 1925, Henry Norris publicou o seguinte anúncio no jornal The Athletic News:

“O Arsenal Football Club está aberto a receber candidaturas para a função de Manager da equipa. O candidato deve ter experiência e elevadas qualificações para o lugar e em ambas capacidade e carácter. Cavalheiros que só tenham capacidade para desenvolver trabalhos positivos dependendo do pagamento de taxas de transferências pesadas e exorbitantes não precisam de apresentar candidatura.”


Herbert Chapman, campeão inglês 2 épocas consecutivas pelo Huddersfield Town (1923/24 e 24/25), candidatou-se ao lugar e foi nomeado Manager do Arsenal FC, no verão de 1925. Nada voltou a ser como dantes. Foi o primeiro treinador a ter controlo absoluto num clube de futebol.

Herbert Chapman, aproveitou a implementação da Lei do Fora-de-jogo para desenvolver no Arsenal o mais revolucionário sistema táctico do futebol: o WM (3-2-2-3). A mãe de todas as tácticas que marcou 3 décadas do futebol mundial.

Confrontado com as fragilidades do universal 2-3-5, que permitia demasiada liberdade ao avançado-centro adversário, resolveu recuar o médio-centro do sistema piramidal inventando o designado stopper, o defesa-central. Da mesma forma criou os “interiores” e o “quadrado mágico” com o recuo de dois elementos da linha avançada.

Conseguiu o equilíbrio, a consistência e a harmonia pretendida em termos tácticos e acrescentou com contratações importantes como as de David Jack, Cliff Bastin, Alex James e Eddie Hapgood que transformaram os “Gunners” numa equipa temível.

Teve tanto sucesso em anular os adversários, apesar das críticas iniciais considerarem o sistema demasiado defensivo, que ao fim de 2/3 anos foi adoptado pela esmagadora maioria das equipas inglesas e europeias.

Herbert Chapman foi Manager do Arsenal FC entre 1925 e 1934, num percurso interrompido, por uma pneumonia que lhe ceifou a vida a 6 de janeiro de 1934, aos 55 anos. No entanto, as bases sólidas da fundação garantiram aos “Gunners” 3 títulos consecutivos ou 4 em 5 anos. O Arsenal que nunca tinha conquistado qualquer troféu, venceu a Taça de Inglaterra em 1929/30 e foi Campeão inglês em 1930/31, 1932/33, 1933/34, 1934/35.



Visionário, Herbert Chapman contribuiu também com outras ideias inovadoras como a numeração das camisolas, a utilização de holofotes nos jogos nocturnos, a criação dos torniquetes e dos placards/marcadores informativos, o relógio "Clock End", o recurso a massagistas, as listas nas meias e as mangas brancas nas camisolas para melhor identificação entre os jogadores, inclusivamente influenciou a mudança de nome da estação de metro de Gillespie Road para a estação do Arsenal.