No futebol nada está garantido. É um jogo de habilidades com os pés e exploração da inteligência. Muitas vezes a equipa que joga melhor com os pés não ganha à equipa que joga melhor com a cabeça.


segunda-feira, 8 de março de 2021

PENALTY



Se algum jogador intencionalmente derrubar ou segurar um adversário, ou jogar deliberadamente a bola com a mão, a menos de 12 jardas da sua linha de golo, o árbitro atribuirá à outra equipa um pontapé de penalidade, a ser executado de qualquer ponto a 12 jardas da linha de golo e nas seguintes condições: todos os jogadores, à excepção do executante da falta e do guarda-redes, têm de permanecer atrás da bola e a pelo menos seis jardas dela. A bola entrará em jogo assim que pontapeada. Pode ser marcado golo através desse pontapé de penalidade.”

“A PROPOSTA IRLANDESA”

 

A 3 de Março de 1891 o International Football Board (IFB) aprovou a regra da grande penalidade no futebol, sugerida pelo Guarda-redes irlandês William McCrum, do Milford FC, que designou o movimento como “um pontapé de penalidade, a ser executado de qualquer ponto a 12 jardas da linha de golo”.

Até aquela altura as faltas cometidas próximas da baliza (Não havia área de baliza) eram penalizadas com livres indirectos e fáceis de contrariar.

Inicialmente, a proposta não foi bem recebida ao ponto de ser considerada como uma “falta de cavalheirismo” e até ridicularizada pelos próprios membros do International Football Board, como era habitual em relação a todas as inovações drásticas que surgiam.

No entanto, a 14 de Fevereiro de 1891, nos quartos-de-final da Taça de Inglaterra, no último minuto do jogo entre Notts County e o Stoke City e com o resultado em 1-0, Jack Hendry do Notts County cortou uma bola com a mão em cima da linha de golo. Na conversão do livre indirecto, a equipa do Stoke não conseguiu ultrapassar a barreira de jogadores adversários formada em cima da linha de golo e foi eliminado da Taça. O lance não passou despercebido e até o árbitro fez questão de fazer uma referência ao sucedido no relatório do jogo.

Perante esta evidência, o International Football Board voltou a discutir a “proposta irlandesa” de McCrum e desta vez aprovou a lei XIV do futebol ou seja a regra do Penalty. 

A 22 de agosto de 1891, Alex McCall, do Renton e contra o Leith Athletic num jogo da Liga escocesa, converteu o primeiro penalty da história.

Milford FC e William McCrum
 

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

O FUTEBOL NOS JOGOS OLIMPICOS (A estreia de Portugal)

1928 (AMESTERDÃO) IX JO: Depois de ameaçar presença nos Jogos de 1924, em que desistiu 15 dias antes do início da competição e já depois dos sorteios realizados onde iria defrontar a Suécia na fase preliminar, Portugal fez a sua estreia num grande evento internacional de futebol, uma prova equivalente a um campeonato do mundo. 

Para estas Olimpíadas, havia uma grande expectativa em relação à qualidade da equipa de futebol, considerada na altura como uma geração de ouro, com jogadores como Jorge Vieira, Carlos Alves, Vítor Silva, Augusto Silva, Raul “Tamanqueiro”, Valdemar Mota ou o prodigioso “Pepe”.

A comitiva portuguesa era composta pelos jornalistas Ribeiro dos Reis como Director, Cândido de Oliveira como Seleccionador / Treinador e Ricardo Ornellas (o criador de “A Equipa de Todos Nós”) como Treinador. Os  guarda-redes eram António Roquete (CA Casa Pia) e Cipriano Santos (Sporting CP); os defesas: Carlos Alves (Carcavelinhos FC), Jorge Vieira (Sporting CP) e Óscar de Carvalho (Boavista FC); os médios: Raul “Tamanqueiro” Figueiredo (SL Benfica), Augusto Silva (CF Os Belenenses), César de Matos (CF Os Belenenses) e Aníbal José (Vitória FC de Setúbal); os avançados: Waldemar Mota (FC Porto), José Manuel Soares “Pepe” (CF Os Belenenses), Vítor Silva (SL Benfica), Armando Martins (Vitória FC de Setúbal), José Manuel Martins (Sporting CP), João dos Santos (Vitória FC de Setúbal), Jorge Tavares (SL Benfica), Liberto dos Santos (União Foot-Ball Lisboa) e Alfredo Ramos (CF Os Belenenses).

Na estreia de Portugal nos Jogos, tal como a da chama olimpica, o sorteio até beneficiou a equipa lusa evitando confrontos com selecções mais cotadas, mas obrigou a um jogo preliminar (A Espanha também esteve para fazer um jogo preliminar, mas a Estónia desistiu dos Jogos) que podia ditar o afastamento prematuro da competição. Ainda por cima o jogo era contra o desconhecido Chile. Aos 16 minutos os lusos já perdiam por 2-0 e para agravar a situação Armando Martins lesionou-se e na altura não havia substituições. No entanto, a alma lusitana fez a equipa tocar a reunir enquanto soltava o génio de “Pepe” e ainda antes do intervalo chegou ao empate para ganhar o direito de chegar aos oitavos-de-final. 4-2 foi o resultado. Portugal alinhou assim:

PORTUGAL – 4 – CHILE - 2

António Roquete - Carlos Alves, Jorge Vieira (C) - "Tamanqueiro", Augusto Silva, César Matos - Waldemar Mota (1), "Pepe" (2), Vítor Silva (1), Armando Martins, José Manuel Martins.

Portugal jogou praticamente com os mesmos jogadores em todos os jogos, excepto no jogo com a Jugoslávia onde entrou João dos Santos para substituir o lesionado Armando Martins que voltaria no jogo seguinte.

Ultrapassado o “angustiante pesadelo” do primeiro jogo e do espectro da eliminação prematura, Portugal preparou-se para o confronto com a Jugoslávia que, apesar de não ser uma das formações mais cotadas na prova, tinha a experiência de duas participações nesta competição mundial (1920 e 1924). 

Foi um jogo duro, complexo e desgastante, com expulsões de Waldemar Mota e Ivković aos 80 minutos e com o golo da vitória portuguesa a surgir ao minuto 90 por intermédio de Augusto Silva. Portugal alinhou assim:

PORTUGAL – 2 – JUGOSLÁVIA - 1

António Roquete - Carlos Alves, Jorge Vieira (C) - "Tamanqueiro", Augusto Silva (1), César Matos - Waldemar Mota, "Pepe", Vítor Silva (1), João dos Santos, José Manuel Martins.


Portugal estava a escrever a sua história na competição e o sonho de estar entre as 8 melhores tinha sido alcançado. Agora os quartos-de-final, com o sorteio a afastar as selecções mais cotadas e a colocar os nordeste-africanos do Egipto no caminho. Egipto que tinha afastado a Turquia com um resultado de 7-1 e tal como a Jugoslávia já tinha a experiência de duas participações nesta competição mundial (1920 e 1924). 

No entanto, o grupo parece ter criado um excesso de confiança perante o adversário, evidente nos relatos: “Uma equipa de paxás com um ataque velocíssimo no qual pontificam quatro negros”. 

A verdade é que o Egipto apostou na consistência defensiva (os tais paxás estáticos) e na velocidade do contra-ataque (os velocistas), obrigando os portugueses a chocar com um muro, a desperdiçar oportunidades, a desgastar energias e a perder discernimento. 

Os egipcios adiantam-se no marcador ainda na primeira parte e chegam a 2-0 no início da segunda, Vitor Silva reduz para 2-1 aos 76 minutos e Waldemar Mota ainda reclama um golo que o árbitro italiano Giovanni Mauro não confirma por considerar que a bola não tinha ultrapassado a linha de golo por completo. A viagem terminava ali.

Portugal alinhou:

PORTUGAL – 1 - EGIPTO - 2

António Roquete - Carlos Alves, Jorge Vieira (C) - "Tamanqueiro", Augusto Silva, César Matos - Waldemar Mota, "Pepe", Vítor Silva (1), Armando Martins, José Manuel Martins.


As expectativas estavam altas e foi dificil digerir aquela derrota com os faraós. Principalmente por estar tão perto das medalhas e nomeadamente pela forma como o Egipto caiu nas meias-finais perante a Argentina (6-0) - com quem os lusos tinham empatado antes da competição - e perante a Itália (11-3) - que os lusos tinham ganho por 4-1 num particular antes da competição - na discussão da Medalha de Bronze.

De qualquer forma só em 1966 outra selecção portuguesa fez um percurso melhor. No Ranking Final a selecção portuguesa ficou em 5.º lugar com os mesmos pontos que o 4.º classificado: O Egipto.

Vítor Silva foi o melhor marcador da Selecção com 3 golos.





sábado, 13 de fevereiro de 2021

FUTEBOL NOS JOGOS OLIMPICOS (1912 a 1924)




1912 (ESTOCOLMO) V JO: Nesta edição dos Jogos o português Francisco Lázaro, que integrou a primeira comitiva lusa em olimpíadas, participou na modalidade de atletismo e na prova da Maratona tendo ficado na história como a primeira vítima mortal de uns Jogos Olímpicos.

O Comité Organizador dos jogos negou-se a incluir, inicialmente, o futebol no programa oficial por considerar que se tratava de uma modalidade de exibição e não de competição. Devido a certas pressões, o futebol acabou por ser admitido como desporto olimpico, mas sob a condição da participação de uma equipa por nação, contrariando as intenções da Grã-Bretanha que pretendia inscrever equipas representativas de Inglaterra, Irlanda, Escócia e País de Gales. Nestas Olimpíadas intervieram 11 nações, todas europeias, (Finlândia, Itália, Áustria, Alemanha, Holanda, Suécia, Rússia, Grã-Bretanha, Dinamarca, Noruega e Hungria).

Nesta edição já não se registaram tantas goleadas escandalosas, como as ocorridas em Londres, demonstrando assim o nível crescente do futebol, cada vez mais popular, e com tendência para o equilibrio entre os diversos paises.

Para além da competição principal e com acesso às medalhas, a organização promoveu um torneio paralelo, denominado Torneio de Consolação, destinado aos paises eliminados em fases prematuras para que pudessem realizar mais jogos.

Tal como em 1908, Grã-Bretanha, Dinamarca e Holanda repetiram superioridades e Finlândia surgiu como a grande surpresa da prova. Nas meias-finais, a Grã-Bretanha derrotou a Finlândia por 4-0 enquanto a Dinamarca vencia a Holanda por 4-1, repetindo a final anterior. Os britânicos venceram por 4-2, renovaram o título e levaram a medalha de Ouro.

No jogo para atribuição da medalha de Bronze a Holanda goleou a surpreendente Finlândia por esclarecedores 9-0.

Na final do Torneio de Consolação, a Hungria venceu a Áustria por 3-0.

Assim: Ouro: Grã-Bretanha; Prata: Dinamarca; Bronze: Paises Baixos.

Harold Walden (GB) e Jan Vos (Holanda) com 8 golos foram os melhores marcadores da competição oficial seguidos por Anthon Olsen (Dinamarca) com 7 golos. No Torneio de Consolação, Gottfried Fuchs (Alemanha) foi o melhor marcador com 10 golos, todos obtidos no jogo com a Russia.




1916 (BERLIM) VI JO: A edição dos Jogos Olimpicos prevista para Berlim não se realizou devido à Primeira Guerra Mundial. Durante o conflito, no Natal de 1914, as tropas suspenderam a guerra para um jogo de futebol.




1920 (ANTUÉRPIA) VII JO: Nas Olimpíadas de Antuérpia, o futebol adquiriu particular relevo, dado que a Organização apresentou o Torneio de Futebol como o “I Concurso Mundial” e registou um enorme êxito de participação com 14 selecções europeias (Bélgica, França, Grã-Bretanha, Espanha, Dinamarca, Jugoslávia, Checoslováquia, Itália, Noruega, Holanda, Luxemburgo, Suécia, Grécia e Suiça) e 1 selecção do nordeste africano (Egipto). A Suiça, porém, acabou por desistir um dia antes da prova começar.

Devido ao conflito bélico, a relação entre paises europeus estava dividida e as questões politicas influenciaram decisões desportivas. Alemanha, Áustria, Hungria, Bulgária e Turquia não foram convidadas a participar e por outro lado Inglaterra, Irlanda, Escócia e País de Gales decidiram abandonar a FIFA. A Grã-Bretanha, campeã em título, acabou por participar com uma equipa amadora e saiu cedo da competição.

Nestas Olimpíadas o torneio de futebol ficou também marcado por diversos incidentes e por regulamentos algo tendenciosos que incluia o Torneio do Ouro e um Torneio das Medalhas de Prata e Bronze com uma configuração peculiar e com dependência dos finalistas ao Ouro.

Nas meias-finais do Torneio do Ouro, a Checoslováquia (Estado criado após dissolução do Império Austro-Húngaro derrotado na Grande Guerra) derrotou a França por 4-1 e marcou encontro na Final com a Bélgica que entretanto venceu a Holanda por 3-0. Na Final, a Bélgica adiantou-se no marcador e chegou a 2-0, mas aos 39 minutos a Checoslováquia abandonou o jogo em protesto contra a arbitragem do inglês Johnny Lewis considerada tendenciosa. Como se recusaram a regressar ao terreno de jogo os checos foram penalizados com derrota e desqualificados.

Pela lógica competitiva, a Holanda e a França deviam decidir a medalha de Prata (com a saida da Checoslováquia) e a medalha de Bronze na qualidade de semi-finalistas, mas a singularidade dos regulamentos do torneio afastaram a França, que tinha sido derrotada pelos Checos nas meias-finais, das medalhas e recuperaram a Espanha, eliminada pela Bélgica nos 4.ºs de final e a melhor equipa do segundo torneio, para discutir a Prata e o Bronze com os holandeses igualmente eliminados pela Bélgica (Meias-finais). Nesse jogo de atribuição de medalhas, a Espanha de Zamora e Pichichi levou a melhor sobre os holandeses por 3-1 e levaram a medalha de Prata. Curiosamente, a Holanda conseguiu a 3.ª medalha de bronze consecutiva.

Assim: Ouro: Bélgica; Prata: Espanha; Bronze: Paises Baixos.

Knut Herbert Carlsson (Suécia) com 7 golos foi o melhor marcador da competição, seguido por Antonín Janda-Očko (Checoslováquia) com 6 golos e por Bernardus "Ber" Groosjohan (Holanda) com 5 golos.






1924 (PARIS) VIII JOA última edição do Barão de Coubertin. O crescimento dos Jogos foi evidente nesta edição com a participação de 3088 atletas de 44 paises para 19 modalidades, tendo sido construído um complexo desportivo olimpico e o Estádio Olímpico de Colombes/Yves-du-Manoir e ainda instalada a primeira aldeia olimpica. O torneio olimpico de futebol acompanhou o desenvolvimento e a modalidade ganhou uma dimensão global nunca antes alcançada noutro evento.

Nesta edição dos Jogos, em que pela primeira vez foi usado o lema olímpico Citius, Altius, Fortius (Mais rápido, mais alto, mais forte), participaram no Torneio de Futebol 22 países, 19 europeus (Itália, Espanha, Suiça, Lituânia, Checoslováquia, Turquia, Estónia, Jugoslávia, Hungria, Polónia, Suécia, Bélgica, Bulgária, França, Irlanda, Luxemburgo, Holanda, Roménia, Letónia), 1 norte-americano (USA), 1 sul-americano (Uruguai), 1 nordeste-africano (Egipto).

De registar que apesar de bastante concorrida, esta edição não contou com a presença das equipas britânicas (Excepto a Irlanda) em confronto com a FIFA, da Dinamarca, Finlândia, Noruega, Alemanha (Não convidada) e Áustria. Portugal esteve para participar mas desistiu cerca de 15 dias antes do início da competição e já depois dos sorteios realizados onde iria defrontar a Suécia na fase preliminar.

Numa edição de grandes expectativas e muito interesse, a Bélgica, campeã olimpica, caiu espectacularmente na segunda ronda (Derrota com a Suécia por 8-1 na Catastrophe de Colombes”), a Checoslováquia também caiu na segunda ronda em dois jogos com a Suiça que seria a surpresa da prova (1-1/1-0) e a Espanha saiu na primeira ronda (Derrota com a Itália por 1-0). 

Isto enquanto os uruguaios deliciavam o público com o seu futebol espectacular. A carreira irresistível dos sul-americanos da “Celeste Olimpica” assombrou o público europeu e jogadores como José Nasazzi, Héctor Scarone e José Leandro Andrade converteram-se nos ídolos dos entusiastas parisienses que reconheciam a superioridade uruguaia.

Nas meias-finais, as duas surpresas da prova, Suiça e Suécia, discutiram o acesso à final que sorriu aos suiços na vitória por 2-1. No outro jogo, o surpreendente Uruguai teve mais dificuldades frente à Holanda mas acabou por vencer por 2-1, fruto de uma grande penalidade mal assinalada pelo árbitro francês Georges Vallat aos 81 minutos que Scarone (antes tinha tocado a bola com a mão) converteu. O Jornal France Soir titulou: "L'arbitre bat la Hollande".

Para a atribuição da Medalha de Bronze foram necessários dois jogos entre a Suécia e a Holanda e no final os Paises Baixos não conseguiram repetir as medalhas anteriores. A Suécia levou o Bronze (1-1/3-1).

Na Final, o Uruguai voltou a demonstrar todo o seu virtuosismo e capacidade técnica superando a Suiça por 3-0 e a Europa descobriu um outro tipo de futebol, começando a germinar a ideia de uma competição mundial própria.

As medalhas ficaram assim distribuídas: Ouro: Uruguai; Prata: Suíça; Bronze: Suécia.

Pedro Petrone (Uruguai) com 7 golos foi o melhor marcador da competição, seguido por Max "Xam" Abegglen (Suiça) e Sven Rydell (Suécia) com 6 golos e ainda de Cornelis "Kees" Pijl (Holanda), Héctor Scarone (Uruguai) e Paul Sturzenegger (Arg/Suiça) com 5 golos.



NOTA: Em 1924 o argentino Cesáreo Onzari marcou o primeiro golo de canto directo, num jogo amigável entre a Argentina e o Campeão olimpico Uruguai (2-1). Esse golo ficou conhecido por “Golo Olimpico”, não por ter sido conseguido no Torneio olimpico, mas por ter sido marcado aos campeões olimpicos.


 

FUTEBOL NOS JOGOS OLIMPICOS (1896 a 1908)



Os Jogos Olimpicos da Era Moderna, criados pelo aristocrata, pedagogo e historiador francês Charles Pierre de Frédy (Freddye), Barão de Coubertin, tiveram a sua primeira edição em 1896 (Atenas).

A FIFA reconhece a participação do Futebol nos Jogos Olimpicos de 1896 (Atenas), 1900 (Paris) e 1904 (Saint-Louis USA), mas fora do concurso olimpico e representado por equipas, 3 em cada edição, que reuniam maior evidência e ofereciam maior disponibilidade.

A edição oficial da entrada do futebol nos Jogos Olimpicos é nos Jogos de Londres de 1908.

As olimpiadas de 1920 (Antuérpia), 1924 (Paris) e 1928 (Amesterdão), consagraram o futebol como a modalidade rainha dos jogos, contribuindo para a criação do Campeonato do Mundo de Futebol, realizado pela primeira vez em 1930 (Uruguai). A partir de 1936 (Berlim) o Atletismo e a Natação tornaram-se as modalidades de excelência no contexto olímpico.



1896 (ATENAS) I JO: Nestes Jogos participaram três equipas, 2 gregas e 1 dinamarquesa. As equipas gregas representavam as cidades de Esmirna e Salónica e disputaram um encontro entre si, do qual saiu vencedora Esmirna. Na final, fora do Programa Oficial Olímpico que só incluia 9 modalidades desportivas (atletismo, ciclismo, esgrima, ginástica, halterofilismo, luta, natação, ténis e tiro), a formação de Esmirna venceu a equipa representante da Dinamarca por esclarecedores 15-0. 




1900 (PARIS) II JO: Igualmente fora do concurso olimpico, intervieram nestas olimpiadas três equipas: O Upton Park FC (Londres), em representação da Grã-Bretanha; O Student XI, uma formação da Universidade de Bruxelas reforçada com alguns elementos não estudantes (em substituição do campeão Racing Club Bruxelas) em representação da Bélgica e os franceses da USFSA (Union des Sociétés Françaises des Sports Athletiques) que delegaram presença no campeão francês Club Français Paris.

Realizaram-se dois jogos, ambos no Velódromo de Vincennes: No primeiro jogo os britânicos do Upton Park derrotaram o Club Français Paris por 4-0. No segundo jogo, o Club Français Paris derrotou o Student XI por 6-2 e com esse resultado ficou decidido o vencedor do torneio e a atribuição das medalhas: Ouro: Grã-Bretanha; Prata: França; Bronze: Bélgica.




1904 (SAINT-LOUIS / USA) III JO: Mais uma vez fora do concurso olimpico, participaram no Torneio de Futebol desta edição duas equipas norte-americanas (Christian Brothers College e Saint Rose Parish) e uma equipa canadiana (Galt Ontário Football Club). Como acontecera nas edições anteriores as equipas não constituiam selecções nacionais mas sim clubes que ostentavam, mais ou menos veladamente, a representatividade nacional.

O Galt FC do Canadá foi o grande vencedor do torneio ao vencer os dois jogos que realizou: 7-0 sobre Christian Brothers College e 4-0 sobre Saint Rose Parish. A Christian Brothers College conquistou o segundo lugar ao vencer a Saint Rose Parish após dois jogos (0-0 e 2-0). Mais tarde o COI concedeu a medalha de ouro ao Canadá pela vitória do Galt Ontário FC.






1908 (LONDRES) IV JO: As Olimpiadas da entrada oficial do Futebol no Programa Olimpico. Nesta competição inscreveram-se 7 paises (França, Grã-Bretanha, Suécia, Países Baixos, Dinamarca, Boémia e Hungria), no entanto, Boémia (Checos/Austríacos) e Hungria, por razões politicas acabaram por desistir e a França teve de improvisar uma equipa B. Curiosamente, as duas formações francesas jogaram com a Dinamarca e sairam goleadas (França B por 9-0 e França A por 17-1), desaire que fez com que os franceses renunciassem a disputar a medalha de bronze, cedendo a vez à Suécia. 

A Grã-Bretanha e a Dinamarca apresentaram-se a um nível superior e disputaram a medalha de ouro na Final com os britânicos a levar a melhor por 2-0. A medalha de Bronze foi disputada entre os Paises Baixos e a Suécia com a vitória a sorrir aos holandeses. 

Assim: Ouro: Grã-Bretanha; Prata: Dinamarca; Bronze: Paises Baixos.

Sophus Nielsen (Dinamarca) com 11 golos foi o melhor marcador do torneio, seguido por Vilhelm Wolfhagen (Dinamarca) com 8 e por  Harold Stapley (GB) com 6 golos.

 

sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

ERNST HAPPEL



Mediocridade traz mediocridade. E isso é fatal."

Eu quero ganhar sempre tudo. E se não consigo ganhar tudo, quero ganhar o resto!

Eu sou um treinador de futebol, se eu fosse um escritor poderia falar sobre um romance.”

O futebol nunca vai morrer. No máximo vai ter crises.”

Quando um treinador desenvolve algo novo, deve primeiro ver se tem os jogadores certos para isso. O jogador é o primário, o sistema o secundário. Um treinador só tem valor para a equipa se a equipa o aceitar."

Hoje não há futebol suficiente nas ruas. O melhor vinha sempre das ruas. Hoje querem apresentar o futebol escolar como solução, apetece-me rir. Um Beckenbauer, um Cruyff não vem da escola, ele só vem da rua. Os melhores jogadores de futebol cresceram sempre nas piores condições.

Sou a favor do futebol ofensivo, o advsersário deve ser atacado desde cedo, do jogo total. Com um adversário forte, no entanto, deves primeiro jogar defensivamente e depois contra-atacar rapidamente.”

Tem que se nascer para este trabalho. Não há nenhum método científico de aprendizagem”.

É preciso talento natural nesta profissão. Conhecimentos teóricos não são suficientes.”

Prefiro ganhar por 5-4 do que por 1-0”.

"Um bom meio-campista tem olhos na nuca, esse é o segredo em poucas palavras."

"Se realmente examinares as tuas próprias opiniões, normalmente encontrarás uma melhor."

"No futebol, os especialistas só são úteis até certo ponto. Isso preocupa-me. Podes colocar um diletante em qualquer lugar. Isso agrada-me."

O meu primeiro instrutor de treino disse-me: ‘não mostre medo, Ernstl! Numa inspeção mais detalhada, o ocasional touro furioso não passa de um boi’."

"Marcações homem a homem, é como juntar onze jumentos."

"Não quero que o futebol seja o meu hobby. Deixaria muito pouco tempo para colecionar selos."

"Não sou amigo dos jogadores. Trabalho à distância."

"Não deves colocar uma parede em redor do hotel da equipa, mas deves sempre carregar alguns tijolos."

"O amor verdadeiro é sempre destruído por pequenos pontos de discórdia."

"O azar não justifica este resultado. Azar é fracturar um pé."

"Um dia sem futebol é um dia perdido."

Se queremos ter sucesso, temos que aceitar os riscos.“

Com muitas vitórias, a disciplina vai desaparecendo. Tornamo-nos muito amigos.”

Sem falar, jogar futebol!”

ERNST HAPPEL


Em 30 anos de carreira como treinador de futebol, o austríaco Ernst Franz Hermann Happel trabalhou no futebol da Holanda, da Bélgica, da Alemanha e da Áustria, e em todos eles ganhou títulos, integrando o grupo restrito de treinadores com troféus em pelo menos 4 paises. Da mesma forma, foi o primeiro a integrar o lote restrito de treinadores que ganharam a Liga dos Campeões por clubes diferentes e o primeiro a chegar a 3 finais da Liga dos Campeões por clubes diferentes.

Happel defendia o trabalho de campo e a acção prática contra a teorização do jogo e dos sistemas, no entanto, há quem defenda que a ideia do Futebol Total nasceu com as suas experiências no Feyenoord e que Rinus Michels do Ajax aproveitou para desenvolver e implementar também na “Laranja mecânica” holandesa no Mundial 1974. Pelo menos, os princípios da armadilha do fora-de-jogo, do sistema 4-3-3 e do pressing colectivo ninguém tira a Happel.

Curiosamente, Happel substituiu Michels no Mundial 1978 e a selecção laranja conseguiu o mesmo resultado, ou seja o vice campeonato, mas sem Cruijff.

Ernst Happel iniciou a carreira de treinador no ADO Den Haag em 1962 e apesar das limitações levou o clube a 4 finais da Taça tendo conseguido 1 Taça da Holanda na época 67/68. O percurso surpreendente despertou curiosidades.

Em 69/70 Happel entrou no Feyenoord Rotterdam para substituir Ben Peeters que tinha sido campeão holandês. Quatro épocas em Roterdão para manter a rivalidade com o Ajax e alcançar troféus internacionais. Happel conseguiu a primeira taça europeia para a Holanda, 1 Taça dos Campeões (1969/70 - Vitória sobre o Celtic Glasgow por 2-1) que mereceu o seguinte comentário do treinador escocês Jock Stein: “O Celtic não perdeu com o Feyenoord. Eu é que perdi com o Happel”.

Durante esse período, o Feyenoord de Happel conquistaria ainda 1 Taça Intercontinental (1970 – Vitória sobre os argentinos do Estudiantes de La Plata com os parciais de 2-2/1-0), que seria também o primeiro troféu intercontinental para o futebol holandês, e 1 Liga Eredivisie.

Em 74/75, saída para o futebol belga e para internacionalizar o Club Brugge KV em três épocas. Durante a estadia, Happel conquistou 3 Campeonatos belgas / Jupiler Pro League, 1 Taça da Belgica, e conseguiu levar o Brugge a duas finais europeias: Finalista vencido na Taça UEFA 75/76 (1-1/3-2 com o Liverpool FC de Bob Paisley) e Finalista vencido na Liga dos Campeões 77/78 (1-0 com o Liverpool FC de Bob Paisley), sendo o primeiro clube belga a participar na final destas competições.

Depois da experiência na Selecção Laranja no Mundial 78, regresso à Bélgica para liderar o Royal Standard de Liège em duas épocas (79/80 e 80/81) e conquistar 1 Taça da Bélgica e 1 Supertaça da Bélgica.

Em 1981, o director desportivo Günter Netzer contratou Ernst Happel para o Hamburger SV com o objectivo de cimentar o crescimento do clube e ganhar títulos, principalmente internacionais. O mago austríaco não defraudou, mesmo considerando algumas derrotas inesperadas. Em 6 épocas, conquistou 2 Bundesliga (2 vezes vice-campeão), 1 Taça da Alemanha e 1 Liga dos Campeões (82/83 – Vitória sobre a Juventus de Giovanni Trapattoni por 1-0).

Nas provas internacionais, Happel levou o Hamburgo SV a finalista vencido da Taça UEFA 81/82 (IFK Göteborg do novato Sven-Göran Eriksson com derrotas 1-0 e 3-0); Finalista vencido da Supertaça Europeia 1983 (Aberdeen FC de Alex Ferguson com 0-0 e 2-0) e foi finalista vencido na Taça intercontinental de 1983 (2-1 para o Grémio PA de Valdir Espinosa).

A saída de Happel coincidiu com a queda do Hamburgo SV.

Em 1987, Happel regressou a casa e ao futebol austríaco, não para treinar o “seu” Rapid Vienna, mas sim o FC Swarovski Tirol (agora FC Wacker Innsbruck) criado no ano anterior. Em 4 épocas e meia Happel conquistou 2 Campeonatos austríacos (1 vez vice-campeão) e 1 Taça da Austria.

No início de 1992, Happel foi convidado para orientar a selecção da Áustria, mas nesse mesmo ano acabou por falecer.




terça-feira, 12 de janeiro de 2021

OTTMAR "der General" HITZFELD


"Um treinador também tem sentimentos, mas não pode tomar decisões humanas. Tem de fazer o que é melhor para a equipa. Tenho um bom relacionamento com os meus jogadores, mas não pode ser muito próxima, pois poderei ter de voltar a magoá-los."

Toda a mudança numa equipa pode-se transformar numa oportunidade para os jogadores se mostrarem.”

Há sempre o medo do fracasso, mas se lutas ganhas nervo, e é aí que os oprimidos têm a oportunidade de criar uma surpresa.”

Eu continuo faminto; Eu ainda odeio derrotas. Não há substituto para as vitórias.”

Eu ganho forças com pensamentos positivos e conversas diárias com Deus.”

Nunca rescindi um contrato na minha carreira. A minha filosofia é cumprir sempre os contratos.”

A mentalidade de vitória significa querer vencer todos os jogos. Até mesmo um jogo no treino.”

"Eu sou um ditador democrata."

Eu era muito tímido e mostrava-me inibido quando tinha de falar em frente das outras pessoas. Como jogador isso não era importante, mas como treinador tive que aprender a olhar de frente e abordar com confiança as pessoas a quem me dirigia.”

É muito importante termos a nossa própria filosofia e conseguirmos implementá-la, mas é também fundamental percebermos que temos de trabalhar com os jogadores que temos. É importante perceber que apesar da filosofia própria, é preciso ter os jogadores necessários para a aplicar.

Precisamos de experiências negativas para melhorar.”

Ser um treinador de futebol é um trabalho a tempo inteiro, o que quer dizer que temos de estar sempre a pensar em futebol, de dia e de noite. Temos de pensar na nossa equipa e sobre os novos desenvolvimentos. Estar actualizado.”

Sempre disse aos jogadores porque é que não jogavam. Tentei sempre explicar-lhes porque é que não eram escolhidos. Temos que ter a certeza que não ofendemos ou magoamos as pessoas.”

Os meus jogadores esperam que eu conheça bem os nossos adversários, mas também esperam que eu os conheça a eles tão bem ou melhor. Os jogadores querem que o treinador não os veja apenas como alguém com um número na camisola.”

Para mim, a comunicação é a componente mais importante para um treinador. Precisamos de sentir o que se passa dentro do plantel e termos a empatia necessária.”

Quando se tem uma equipa jovem e se promove o talento, não se pode ter a sensação de que se vai ser campeão ao mesmo tempo, com esta estratégia o título não pode ser o objectivo.”

OTTMAR HITZFELD

 

Ottmar “der General” Hitzfeld, ou “Gottmar Hitzfeld”, é um dos treinadores que pertence ao lote restrito dos vencedores da Liga dos Campeões em 2 clubes diferentes (Borrussia de Dortmund e Bayern). Da mesma forma, é o treinador marcado pela dramática derrota na final da Liga dos Campeões no jogo Bayern Munchen vs Manchester United, em que era campeão aos 90 minutos e perdeu a taça.

O alemão de Lörrach, cidade fronteiriça com a Suiça, terminou a carreira de jogador no FC Luzern da Suiça em 1983 e, em 83/84, iniciou a carreira de treinador nos suiços do SC Zug (ex-FC Excelsior) na II divisão, onde garantiu o título e a subida.

Na época 1984/85, Hitzfeld continuou na Suiça mas a treinar o FC Aarau, onde permaneceu 4 épocas e chegou a lutar pelo título em 84/85, vencido pelo Servette FC, tendo conquistado 1 Taça da Suiça.

Na época 1988/89, Hitzfeld foi contratado pelo Grasshopper Club Zürich, onde permaneceu 3 épocas e conquistou 2 Campeonatos suiços e 2 Taças da Suiça. Estava consolidada e reconhecida a sua competência.

Na época 1991/92, o regresso à Alemanha e para treinar o Ballspiel-Verein Borussia 09 e. V. Dortmund, ou melhor Borussia de Dortmund. Por lá ficou 6 épocas. Logo na primeira época discutiu o título com o VfB Stuttgart (que garantiu o campeonato na última jornada) e em 93 chegou á final da Taça UEFA onde saiu vergado pela Juventus FC com duas derrotas (3-1 e 3-0).

A partir daqui o crescimento foi inevitável e Hitzfeld conseguiu reunir um lote de jogadores que garantiam títulos. Matthias Sammer, Jürgen Kohler, Stefan Reuter, Andreas Möller, Paulo Sousa, Karl-Heinz Riedle, Stéphane Chapuisat, Paul Lambert pertenciam ao lote e o Borussia conquistou 2 Bundesliga (Regresso aos títulos 32 anos depois), 2 Supertaça da Alemanha e 1 Liga dos Campeões (96/97 – Vitória sobre a Juventus FC por 3-1). Já com Hitzfeld como Director Desportivo (Para fugir aos conflitos de campo) e com Nevio Scala como treinador, o Borussia conquistaria ainda 1 Taça Intercontinental (1997 – Vitória sobre o Cruzeiro do Brasil por 2-0).

A consistência defensiva e o equilibrio competitivo do Borussia, fez despertar o interesse no trabalho de Ottmar e na época 1998/99, a entrada no histórico Bayern München que o escolhera como treinador e para substituir Giovanni Trapatonni.

Entre as épocas 1998/99 e 2003/04 (6 épocas), o Bayern conquistou 4 Bundesliga (3 consecutivas), 4 Taças da Liga, 2 Taças da Alemanha, 1 Liga dos Campeões (2000/01 – Vitória nas penalidades por 5-4 após 1-1 sobre o Valência CF) e 1 Taça Intercontinental (2001 – Vitória sobre o CA Boca Juniors por 1-0 após prolongamento). Sem esquecer a Liga dos Campeões perdida para o Manchester United de Alex Ferguson em 1999.

Em 2004, Hitzfeld acaba por sair do Bayern para entrar Félix Magath, mas regressa em 2007 para terminar a época 2006/07 substituindo o mesmo Magath e cumprir a última nos bávaros (2007/08). Não saiu sem conquistar mais 1 Bundesliga e 1 Taça da Alemanha (Numa final contra o Dortmund).

Depois de ter recusado a selecção germânica em 2004 após a saída do Bayern, em 2008 aceitou o convite para seleccionador da Suiça e por lá ficou até 2014. Após o fracasso da Suiça no Euro Áustria/Suiça 2008, a aposta no alemão mais suiço da germânia tinha como objectivo a recuperação da selecção e a presença na fase final do Mundial África do Sul 2010. Objectivo alcançado, apesar de na fase final não ter passado da fase de grupos.

Em 2012, falhou o apuramento para o Euro Polónia/Ucrânia 2012, mas 2014 conseguiu o apuramento para a fase final do Mundial Brasil 2014 e já deixou sinais de crescimento por influência da administração de Ottmar. No entanto, não passou dos oitavos de final e Hitzfeld fechou a loja e reformou-se.